“Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém” – (ditado popular).
Desde que as autoridades públicas menos atentas à disseminação do Coronavírus começaram a perceber que a Ômicron estava arrefecendo, a pouca cautela habitual se fez presente num abrir e fechar de olhos. Em especial por agora, na abertura do período eleitoral, em que os autoritários de sempre pensam que liberar os cidadãos de itens incômodos como proibição de agrupamentos, e, sobretudo as máscaras, serão excelente moeda para aquinhoar simpatias, ou seja, votos. Ledo engano, até porque essa liberalidade precipitada custou graves prejuízos eleitorais nas últimas eleições à figuras como Crivella e mesmo Bolsonaro.
Quando no ultimo desfile de 21 de abril das Escolas de Samba fui convidado a visitar um luxuoso camarote, fui instado a retirar minha máscara à entrada por conta de que todos lá dentro estariam sem máscara. É claro que recusei, dei meia volta e retornei à segurança da adorável cabine de transmissão do desfile pela Rádio Roquette Pinto. Onde todos respeitaram meus cuidados pessoais.
Vê-se agora, especialmente nos últimos dias, um fato gravíssimo ocorrer, um grande aumento de novos diagnósticos da pandemia, bem como alta no índice de transmissão. Além da baixa procura por vacinação. Tudo isso, digamos de imediato, era presumível, afinal estamos no outono, alguns dias já são gelados. E o óbvio, só não vê quem não quer: a disseminação de doenças respiratórias começa a se impor.
Nas últimas semanas voltou aquilo de que eu tinha absoluta certeza, as máscaras, as velhas, incômodas, mas necessárias máscaras a abortar a contaminação pelo seu principal caminho, as gotículas projetadas pelos contaminados nas faces de seus interlocutores. Como observei ainda há pouco, o sul do país (mais frio) está à frente do maior número de contaminações. As escolas e prefeitura de lá já recomendaram com vigor a volta das máscaras. A primeira cidade foi Londrina. A medida de contenção foi baseada no aumento de 370% nos casos de Covid-19 nesses últimos 30 dias.
Na sequência, e essa pandemia não é mesmo para brincadeira de políticos levianos a se fazerem de bonzinhos, cidades de cinco estados do sul já voltaram a recomendar o uso de máscaras: São Bernardo do Campo (MG), Petrópolis (RJ), Maringá (PR), Poços de Caldas (MG) e Canoas (RS). Estou acompanhando com preocupação aquilo que desde o Carnaval pressupunha, o agravamento da pandemia pela liberação dos cuidados que continuam necessários. Acabo de ler boletim da Fiocruz (e aguardo com ansiedade uma próxima nota da querida médica Margareth Dalcolmo) que assegura o temível aumento de casos de Covid-19 em todas as regiões do país, ao lado, o pior, do aparecimento de outros vírus respiratórios. O que se vê, a partir do Sul, ou seja, o temor de crescimento (ou volta) da pandemia já é fato concreto. Diversas escolas e universidades em estados como Paraná, Rio Grande do Sul, Minas e São Paulo, assim como a nossa UFRJ, passaram a indicar aquilo de que eu tinha a certeza, voltariam as máscaras. Escolas de São Paulo parecem agora estar à frente na corrida à cautela e urgente proteção. Outro fator de peso, e muito necessário, será a vacinação imediata dos 12 aos 18 anos, que acabou de ser liberada enquanto escrevo as notas de agora. Segundo a Fiocruz os adolescentes nessa faixa etária foram muito atingidos pela pandemia, razão por que sua imunização há que ser imediata e urgente.
Agora, um fato muito aflitivo acaba de ser informado: apenas 42,46% da população tomaram a dose de reforço contra a pandemia. Para o presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde será essencial, para segurança geral, atingir os 90%. E ele mesmo alerta que pode estar a ocorrer uma novidade no Brasil – “o silêncio epidemiológico”, porque alguns municípios têm relatado aumento de internações e oscilações de óbitos, sem correspondência de casos. Para encerrar, concluo com outra notícia que merece todos os cuidados, é a possibilidade de epidemia de uma novíssima doença, a varíola dos macacos, supostamente já extinta. Mas que insiste em voltar. Faço minhas as palavras da microbiologista Natalia Pasternak: “o diagnóstico da varíola dos macacos não será nunca óbvio, porque se confunde com catapora, sífilis e doença de pele. Treinamento dos profissionais de Saúde, estratégias de isolamento e vacinação precisam existir. “Tudo isso”, conclui Pasternak, “requer visão, planejamento, verba e muita, muita vigilância”. Assim seja…
Ricardo Cravo Albin
P.S-1: Falando em saúde e em necessidade de fé na ciência, um aplauso fraterno para o cientista e grande médico Paulo Niemeyer Filho, que, com apoio expresso do presidente Merval Pereira, se empossou há dias na Academia Brasileira de Letras como uma representação da fina flor dos médicos escritores deste país.
P.S-2: Ainda da ABL, na próxima sexta se empossará o jurista pernambucano e escritor José Paulo Cavalcanti Filho.
P.S-3: A semana marca ainda o aniversário de cem anos da maior figura da nossa cena teatral, a grande Bibi Ferreira. Na quarta, a Cesgranrio do mestre Carlos Alberto Serpa lança um livro esperado por décadas, a biografia da Bibi, opulento volume escrito pela jornalista e atriz Jalusa Barcellos. Será distribuído para todo o país.