A exposição montada no Paço Imperial para Oscar Niemeyer propõe uma leitura óbvia: o palácio que hospedou a família imperial portuguesa abriga agora o rei da arquitetura mundial. Nosso grande artista paira sobre todos os demais arquitetos de há muito, legitimado por seu gênio universal e por sua renitente defesa da dignificação da arquitetura. O mais interessante no nosso Oscar é que ele sempre esteve muito à frente do grande arquiteto que continua a ser. Porque sua dimensão humana o faz um brasileiro de exceção. Um cidadão que esgrime, acima de tudo, a coerência mais comovedora ao abraçar seus ideais. Parece mesmo quase inacreditável que um homem público de quase cem anos, na inteireza da lucidez e do pensamento, não altere uma linha sequer do que sempre defendeu desde jovem. Ao contrário do presidente Lula, nosso imbatível guardião da coerência não se afasta um milímetro da ideologia que lhe mimou a vida inteira. Talvez por isso – ao chegar daqui a dez meses ao centenário – mantém-se jovem, ardente, revolucionário. A ponto de se casar há pouco com Vera, sua secretária por décadas. Dando-nos mais um exemplo de compostura e fidalguia.
A exposição do Paço – carinhosa e dignamente montada por Lauro Cavalcanti – passa a ser uma visita obrigatória dentro da cidade. Por tudo. Especialmente porque exibe a opulência do artista depois dos noventa anos. Os projetos mais recentes estão todos lá! Os desenhos de nus femininos, encantadores e amorosos nas suas curvas, estão lá! As frases, os textos do excepcional escritor que ele é, estão lá! Em resumo, Lauro Cavalcanti tudo dirigiu com batuta de maestro. E compôs uma exposição memorável neste começo de 2007.
Ricardo Cravo Albin
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