Não, não se trata de uma citação jocosa a uma celebrada marca de sabonete dos anos 50-60. O Valle a que me refiro aí no título é o Marcos Valle, que, aliás, vale não o que pesa (e pesa até muito pouco, magrinho que é), mas sim uma tonelada de talento.
Marcos está iniciando uma série de apresentações aqui e no exterior para celebrar seus 70 anos de idade e 50 de carreira. Celebrações que começaram – em termos mais solenes e circunspectos – no Teatro da Academia Brasileira de Letras, quando, ao lado da cantora e musa Patrícia Alvi, foi homenageado há dias dentro do projeto “MPB na ABL”.
Há que se aduzir que só num país tão descuidado com sua memória, esse tipo de saudação não é mais constante e eficaz. Conto às dezenas os nomes – apenas para me referir à minha paixão, a MPB – que são literalmente jogados embaixo do tapete do esquecimento. E do silêncio, tão constrangedor quanto indecente.
Mas fiquemos com Marcos Valle, que é da segunda geração da Bossa Nova. Compositor, músico, cantor e maestro, ele vem espraiando seu talento por 50 anos sem interrupção, fazendo uma obra em que refulgem joias como – apenas para citar umas poucas – “Viola enluarada”, “Samba de verão”, “Eu preciso aprender a ser só”, “Mustang cor de sangue”.
Felizmente, para sorte dele e nossa, seus discos e suas canções são reconhecidos no mundo todo. Ou seja, mesmo que sobre ele tombasse o viés do esquecimento por aqui, a consagração não se esgotaria lá fora, onde seus discos e músicas são sempre solicitados, desde as discotecas de Londres e Nova York até as regravações de astros tão consagrados quanto (ainda nos anos 60-70) Sarah Vaughan ou Ella Fitzgerald.
Num resumo, Marcos e o irmão Paulo Sérgio Valle (letrista de boa parte de sua obra) resumem página de honra de um dos mais belos conjuntos de canções elaboradas, a partir do Rio, para o mundo.
Ricardo Cravo Albin