Nesses tempos de renovação da cidade, com tantas obras programadas e já iniciadas pela Prefeitura do Rio, a imprensa também começa a falar da possibilidade de desativação do Quartel-General da nossa Polícia Militar na Evaristo da Veiga. Até aí nada demais, se o Quartel não fosse um sítio histórico-cultural da mais alta importância. Explico logo que o lendário Quartel dos Barbonos, ou dos Capuchinhos, ostenta
uma história a ser respeitada e resguardada.
Por isso, torna-se inadmissível que em pleno século XXI, depois de tanta destruição do patrimônio artístico-histórico da cidade, alguém pense em transformar este sítio em mais um espigão. E o pior: demolir-se história, trocando-a por um edifício para abrigar as instalações da Petrobrás, logo ela, a nossa querida maior empresa brasileira. Evoco aqui, em defesa do Rio e de sua consciência crítica, alguns dados históricos que permeiam a importantíssima sedimentação multissecular do Quartel dos Capuchinhos.
Antigo convento dos Frades Capuchinhos italianos, os Barbonos, o imóvel passaria a ser, em 1828, o Quartel de Granadeiros, no qual foi instalado o Comando Geral da Corporação, depois a PM. Sua história anterior, sempre foi muito rica e estimulante. Apenas para que se tenha uma idéia: foi no antigo convento dos Frades Barbonos que as primeiras mudas de café vingaram no século XVIII. As mesmas que, multiplicadas por milhares, fariam o Ciclo de Café no Vale do Paraíba.
Já no século XX, foi no vetusto Quartel dos Capuchinhos que a nossa ABI teve abrigo entre 1922 e 1924, quando despejada de vários imóveis no centro carioca. Seria também ali que Mário Rodrigues, pai do dramaturgo Nelson Rodrigues, ficaria preso por todo um ano ao acusar o presidente Epitácio Pessoa de corrupção.
Portanto, daqui segue um apelo às autoridades competentes. Primeiro, à presidente da Petrobrás Graça Forster, que não admita que a idéia infeliz prospere. E também ao governador Sérgio Cabral, para que se faça abortar qualquer possibilidade de que a PM possa sofrer tal revés. Até porque, todos sabemos que nossa história sempre foi preservada pelas igrejas, pelos fortes, pelos quartéis. Boa parte deles verdadeiros museus que nos merecem respeito.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin