E ALEGRIA DE SAUDAR FERNANDO SABINO
O Conselho de Segurança, presidido neste momento pelo Brasil que convocou reunião nesta segunda-feira, transferiu para terça-feira o término da convocação, inclusive, atentem para extrema importância do assunto, estabelecendo a reunião como “portas fechadas”, o que não é corriqueiro.
- Houve duas propostas em análise no Conselho, a da Rússia e a do Brasil. A da Rússia foi vetada há pouco pelos Estados Unidos e o Reino Unido. O texto russo pedia cessar fogo imediato na região, além de condenar todos os atos terroristas, sequer citando o Hamas.
A do Brasil deverá ser analisada hoje, terça-feira, pelo Conselho de Segurança e pede a abertura de um corredor humanitário para oferecer alimento e água à vasta densidade demográfica que vive em Gaza. Sem nomear Israel, o texto brasileiro pede a revogação da ordem israelense para que civis e membros da ONU sejam transferidos para o sul. Israel manteve, nesta segunda, a promessa do cerco total à Gaza, que anunciou 2.750 pessoas mortas.
Segundo analistas, a votação da proposta do Brasil poderá receber vetos dos dois países que desprezaram na tarde de segunda-feira a proposta russa: Um veto total pode ocorrer em instantes, ou talvez a aceitação de certos itens ainda a serem propostos pelo bloco aliado a Israel. Em resumo, a entrada do Presidente do Brasil na mais alta cúpula mundial da diplomacia corre riscos.
- O Presidente Biden anunciou que, devido ao agravamento da crise embarcará nesta quarta-feira para o Oriente Médio, enquanto crescem os temores da entrada do Hezbollah e do Irã contra Israel. O que tornaria agudíssima a inquietação mundial, como temia este articulista no texto da semana passada ao lastimar o embate de espíritos radicais e beligerantes como Netanyahu (infelizmente representando o mesmo Israel de estadistas do porte de Ben Gurion e Golda Meir) e o terrorista Hamas, capaz da monstruosidade de degolar criancinhas.
Justa observação registrou o New York Times ao citar há d
ias a frase de um Prêmio Nobel da Paz – “Parem o mundo, que eu quero sair, a truculência beira o insuportável”. Gritamos também em coro tantos de nós.
100 ANOS DE FERNANDO SABINO
O centenário de nascimento de Fernando Sabino não poderia ser ignorado por este espaço. Sabino não apenas foi meu amigo pessoal por décadas como também coincidíamos numa outra paixão comum além dos livros e da Literatura, o “Jazz”, o magnífico movimento musical norte-americano que propulsionou o século XX com a liberação da revolução que se chamaria, para resumir virtudes outras, de “improvisação fora da pauta escrita”.
Lembro-me como se fosse hoje que Sabino me ligou logo depois que O Globo anunciou a criação do Clube do Jazz e Bossa, na casa do nosso amigo comum Jorge Guinle – “Mas como, Ricardo, você transformando seu Cravo de cheiroso em puro fedor. Como eu não fui convidado? Você sabe de minha paixão por Armstrong, Billie, Ella e já te contei que fui exímio dançarino em Belo Horizonte em festinhas quando tocavam discos do Duke Ellington ou quaisquer New Orleans, mesmo os mais rasteiros!”.
“- Fernando querido, me perdoe, vou ligar ao Jorginho pedindo que coloquem seu nome ao lado de Tom, Vinicius e Silvio Tullio entre os fundadores. Agora mesmo!”.
“- Ah. Bom.” – suspirou o amigo querido do outro lado da linha. E desligou.
Lembro-me ainda que o grande mestre de português Rocha Lima (Carlos Henrique da Rocha Lima) do Pedro II, interrogado por mim atrevidamente – “Mas o professor não indica ninguém mais contemporâneo que Machado e Alencar, que ainda viva entre nós?”. Ao que o Mestre arguiu entre sério e brincalhão – “Vocês andam mesmo desmemoriados. Qual foi o último exercício que pedi que fizessem, Rubem Braga ou Fernando Sabino? E vocês todos foram em cima do Braga, com alguns até apontando Carlinhos de Oliveira. Fernando Sabino, logo ele, o autor de um clássico do século XX “Encontro Marcado”, foi ignorado. Não é mesmo, seu Cravo?”.
E eu, brincando – “Professor, estou escarlate!” – disse-lhe.
– “Seu Cravo, ao invés de ler Sabino, você não abandona mesmo o Eça, seu moço antiquado!”. Encolhi envergonhado. E corri para a sala de aula.
Ricardo Cravo Albin