O samba acaba de fazer 90 anos de idade. Explico: Donga, de quem fui amigo nos anos sessenta, entregou em 1917 o samba inicial “Pelo telefone” (assinado em parceria com o jornalista Mauro de Almeida, que tinha o curiosíssimo apelido de Peru dos Pés Frios, pseudônimo com que se assinava no Jornal do Brasil) para a Casa Edison gravar. Era época do carnaval. Corria o mês de março quando nas vitrolas mecânicas do Rio começou a ser ouvida aquela peça que tinha o curioso gênero indicativo de “Samba”, usado pela primeira vez para qualificar uma música. Conheciam-se, e muito, a valsa, o lundu, o cateretê, a shottisch.
Mas o que seria mesmo aquela mistura de lundu com maxixe, tão buliçosa, tão alegre, tão nova? Seria, décadas depois, o gênero musical número um do país. Marca e definição da apetência miscigênica do povo brasileiro.
O Instituto Cravo Albin, no Rio, levantou a data no mês de março e a fez projetar para o reconhecimento de todo o país. Na solenidade da celebração dos 90 anos de “Pelo telefone”, a viúva de Donga, a venerável Vó Maria, assinou, junto com dezenas de personalidades um singularíssimo pedido promovido pelo Instituto: o tombamento do samba e sua mais luxuosa moldura, a escola de samba, como bens imateriais da cidade e do país. Por isso, dois documentos estarão sendo entregues em breve dias. O primeiro ao Governador Sérgio Cabral, pedindo-lhe o tombo estadual (via INEPAC). Pelo que conheço do governador fluminense, a assinatura do Ato deverá ser acolitada por uma robusta manifestação popular que pode agregar escolas de samba e sambistas dos mais diversos matizes. O segundo ao Ministro Gilberto Gil, remetendo-o ao tombo pelo IPHAN. E, logo a seguir, enviando o pedido a UNESCO, que deverá considerá-los bens imateriais da humanidade. Quem for contra, que discorde. Duvido-de-o-dó que alguém ouse ser contrário a uma das mais radiosas manifestações do melhor espírito carioca.
Ricardo Cravo Albin
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