“O ódio só pode mesmo gerar ódio. Infelizes os que acreditam que o ódio põe de pé. Ele só derruba!” – Juscelino Kubitschek, ao terminar seu mandato.
Passado o Natal e já às vésperas do Ano Novo, eis que chega de rincões estranhíssimos a notícia absurda: um grupo de fanáticos urdia em Brasília sinistra trama para impetrar terrorismo, puro terrorismo, contra a democracia brasileira, melhor explicitando contra a posse de Lula e contra o resultado das eleições presidenciais.
Em poucos dias, o novo presidente eleito democraticamente se empossará em Brasília. Em meio a intensos festejos populares. E agora, por conta do plano de terror sendo mapeado pelas autoridades em meio também à inquietações e temores de esbirros dos fanáticos de plantão.
Claro que, como avalia qualquer pessoa, não faz o menor sentido apregoar, estimular, ou até mesmo apoiar entre dentes qualquer ato contra os passos dos que adentrarão os palácios de Brasília em pouquíssimos dias. Há que se sepultar, de uma vez por todas, essas “concentraçõeszinhas” em alguns quartéis do país. A clamar pelo impossível, a defender o indefensável, a puxar o tapete do próprio país para as tentativas cruéis de mergulhá-lo em luta fratricida.
Por que, toda essa indignação resumida aí acima? Porque a tentativa dos terroristas de plantão existiu de fato. E com provas que esperamos todos sejam apuradas no mais rápido tempo possível.
Nem vou aqui esmiuçar os detalhes sórdidos do ato de terror, muito menos os nomes dos tresloucados que já foram descobertos.
Alguns poucos por enquanto. Eles e tantos outros a serem ainda investigados explodiriam um caminhão no aeroporto com bombas e dinamites para deixar a Capital Federal sem luz. E possivelmente histérica e atônita. Além das muitas mortes de inocentes que ocorreriam.
As primeiras notícias dão conta de mais de meio milhão de reais em explosivos assassinos. Os terroristas vestidos de patriotas exigiriam o Estado de Sítio e a sustação da posse de Lula.
Plano primário? Sim, além de incompetente para terroristas minimamente capacitados. Meno male…
Até a hora em que escrevo, nesta segunda à noite, há apenas o gosto amargo do silêncio do presidente em exercício, que como militar deveria renegar com indignação semelhante insulto ao país e à Capital. Assim silenciando, passa a existir o assentimento tácito do presidente ao terrorismo.
Que gente maluca será essa, Santo Deus, que ainda insiste na plena ordem vigente em atear fogo ao país e impetrar a abominação de atos terroristas? A intolerância chegou ao frisson de não abrigar quaisquer limites. Lembro aqui que a insânia e a convulsão impostas a um país que precisa ter paz e voltar a conviver parece que saiu mesmo dos trilhos. Volto atrás para citar a quantas o ódio está solto dos dois lados. A atriz Regina Duarte, cultora de Bolsonaro, foi praticamente expulsa do Teatro da Liberdade há dias em São Paulo quando lá apareceu para assistir ao espetáculo “Os sonhos não envelhecem”. Foi vaiada e quase agredida aos gritos de Fora Bolsonaro, como represália às agressões à Flora e Gil em estádio do Catar.
Outro momento tristíssimo ocorreu quando Neymar sofreu lesão no jogo contra a Suécia. Em vez de votos de recuperação ao nosso maior craque, os ataques pessoais contra ele provocaram milhares de postagens no Twitter. A ponto de Gleisi Hoffmann reagir com um imprudentíssimo “já vai tarde”. Só porque Neymar fez propaganda do Bolsonaro. Essas odiosas patrulhas do pensamento precisam acabar. E já.
O esboço do terrorismo agora felizmente descoberto é resultante dos caminhos dos ódios plantados nessa eleição. Daqui, ainda me espanto como as autoridades militares, felizmente ao que sei poucas, ainda não dissolveram esses berçários – insisto na conclusão pessimista – de possíveis atos de terror, infelizmente à porta de alguns quartéis. Mas já combatidos com rigor pelas palavras do novo Ministro da Justiça. Que promete, em entrevistas, que não dará tréguas aos criminosos contra a democracia. As primeiras horas do início do novo Governo.
Assim seja…
Ricardo Cravo Albin