Na atual conjuntura do país – mergulhado em tantos escândalos, nos quais reluzem a mesquinhez e a desonestidade – as palavras solidariedade e homens públicos não se coadunam. Nem sequer convivem. Mas há exceções. Embora ao que me refira aqui seja localizado na iniciativa privada e, infelizmente, não no quase deserto preocupante da chamada área público-política. Permita-me que vá direto ao assunto. Logo depois de participar de emocionante reunião no vetusto prédio da Light (da Marechal Floriano) para recuperar/mapear os túmulos do povo da MPB nos cemitérios cariocas (o nome do projeto já enternece: A Última Morada da Música), deparei-me ante uma reunião de centenas de funcionários. Espalhados entre bondes antigos, recuperados com rigor e beleza, os servidores compartilharam de encontro singular, de que eles próprios eram os beneficiários e homenageados. Regendo o espetáculo, um homem público, José Luiz Alquéres, exercia o raro ritual de justiçar quem deve ser justiçado. Ou seja, o exercício da solidariedade da chefia aos seus liderados. Confesso que me enterneceram a modéstia e a sinceridade daquele homem poderoso, que empregou quase três horas acarinhando os comandados com palavras simples e despojadas.
Eu – que queria me desguiar de evento tão corporativo – fui ali ficando um tempo de que, confesso, nem dispunha. Atraído tão somente por produto raríssimo e cada vez mais buscado pelas consciências limpas deste país: a união entre solidariedade e homem público.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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