Hoje se cumprem duas missas de sétimo dia. Em memória de dois vértices de definição pessoal, dois possíveis arcos muito bem acabados da sociedade carioca mais fraterna.
Refiro-me a Artur Sendas e Luis Carlos da Vila, que morreram no mesmo dia. Só quem conheceu ambos muito bem, como eu, poderá lhes testemunhar qualidades que podem uni-los num único preito. De saudade, de reverência e, especialmente, de exaltação de virtudes paralelas. Que – por mais surpreendente que isso possa parecer – existem e os conectam na imortalidade em que acabam de ingressar quase juntos. Um, pranteado por legiões de empresários e amigos. Outro, chorado por todo o povo que faz a melhor música das fraldas cariocas e das escolas de samba. Tudo poderia separá-los a partir de sinais externos: a cor, a ambiência social, o dinheiro, a educação formal.
Mas quero aqui reverenciar ambos na singularidade dos sinais internos, aqueles que têm valor definitivo, eterno, indestrutível. Luiz Carlos da Vila e Artur Sendas, meus queridos amigos, tinham a fidalguia natural dos nobres de espírito. Ambos ostentavam a doçura do coração, a bondade estrutural, a bem-aventurança da fé. Sim, porque os dois pautaram vidas que foram além da dignidade comum: eles detinham a superioridade do crer no ser humano, do buscar a felicidade dos seus semelhantes, do compartilhar.
Artur Sendas e Luiz Carlos da Vila – vejo agora – foram chamados à presença do Criador quase na mesma hora talvez pelas confluências de virtudes. Virtudes tão claras que fazem deles portadores de passaportes diplomáticos para a viagem derradeira. Em primeiríssima classe.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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