Ah! O sortilégio do carnaval carioca com seus blocos, seus bailes e, sobretudo, suas escolas de samba, tão esplendorosas que ganharam o mundo inteiro a partir do Rio. E – não tenham a menor dúvida – provocam o maior espetáculo de canto e dança do mundo inteiro.
Mas não quero aqui referir-me senão a uma pequena, mas sedutora, manifestação permanente do carnaval e que é o samba de quadra.
O que vem a ser, contudo, esta espécie musical? Vem a ser a contraface mais evidente do samba de enredo. Todos eles, é claro, são ligados às escolas de samba.
O samba de quadra – que antes de as quadras das escolas serem pavimentadas eram conhecidos como samba de terreiro (quando havia apenas terra batida) – acaba de realizar – às vésperas do carnaval – seu 5° Concurso Nacional. Este ano conduzido por Jorginho do Império e homenageando a venerável matriarca Vó Maria, viúva de Donga.
Apresentado no Circo Voador na Lapa – um dos centros emergentes mais dinâmicos da música carioca de hoje – este 5º Concurso de Samba de Quadra foi um sucesso, até porque resgata, recupera e dá musculatura àquelas músicas que em geral não têm condição de entrar no mercado e na divulgação pública.
Por quê? Porque as atenções das escolas estão voltadas para os seus samba de enredo, quase sempre (com raras exceções) medíocres peças musicais por encomenda para narrar, passo a passo, o desfile que se apresenta na avenida.
Participei do júri (um corpo de jurados altamente qualificado) deste concurso de nº 5 – o que por si só já pode configurar uma tradição, além do esforço que é manter-se uma idéia generosa e muito conveniente.
E ali comentei com dois dos meus colegas de corpo de jurados Geraldinho Carneiro e Paulo Roberto Direito (este o responsável pela criação dos cinco eventos) que o samba de quadra representa muito mais que uma simples idéia: ele resume a resistência dos compositores, tanto
das alas das escolas quanto dos amantes do samba. Ele redesenha as tradições primitivas do samba antigo, antes dos sambas de enredo de hoje. Ele, finalmente, é um suspiro de liberdade no enclausuramento das músicas pré-encomendadas pelos carnavalescos (e obrigatoriamente não espontâneas) do desfile monumental.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin