Praticamente às fraldas do carnaval, quando os tamborins já começam a esquentar, os lançamentos de livros também começam a ficar mais raros. Afinal, o carnaval do Rio é força motriz que inebria a cidade toda e concentra as atenções do grande dialogo cultural. No entanto, semana passada um evento ligado ao livro deu um tom internacional a nossa diversidade cosmopolita. Foi o lançamento do Rio Bossa Nova, um roteiro lítero musical do escritor Ruy Castro. Refiro-me aqui a ele porque a noite de autógrafos foi isso tudo e céu também. O que se viu – para a multidão que afluiu ao Marina Palace do Leblon – foi um grande “happening” do mais puro espírito da carioquice da Zona Sul da cidade. Primeiro, porque o Ruy, além de morador do Leblon e cultor do Rio, escolheu a dedo o dia 25 de janeiro, data dos 85 anos de Tom Jobim – por sinal homenageado nas telas do Brasil com um filme esplendoroso, “A música segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos”. Depois, porque mais de quinhentas pessoas, estrelas da vida cultural da cidade, juntaram-se para conviver e colher autógrafos do autor (que na mesa ostentava, com carradas de razão, a placa gaiata “Tenha do autor amnésico, diga seu nome”). As pessoas se divertiam. E sabem por que? Porque a festança era num bar do hotel (Bar Vizta, aliás com vista deslumbrante por sobre o marzão do Leblon), com mesinhas e garçons circulando com bebidinhas todo o tempo. E o melhor: um quinteto musical, a banda Conexão Rio, dava o tom exato à toda atmosfera quase embriagadora, tocando o melhor da MPB, sobretudo Tom Jobim.
Bom, dito isso, resta-me falar do essencial, o livro. Que é o mais completo e amoroso roteiro dos lugares que resistem, que definem e qualificam a bossa nova na e para a Zona Sul. O livro é também (e implicitamente) um alerta para a preservação dos pontos de referência e de afeto que a cidade tem obrigação de acolher, já que acabaram com o Canecão, o Mistura Fina e tantos outros.
Escrito em inglês e português, a edição é simplesmente uma delícia de ser lida e vista, porque linda no design e suculentamente esperta no conteúdo. Imperdível para estrangeiros. E cariocas que amam esta cidade, que anda perdendo tantos pontos de estima geral que a definiriam com mais precisão.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cravo Albin
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