Para quem, como eu, começou a vida intelectual como crítico de artes plásticas, lá pelo início dos anos 60, nada mais estimulante, embora hoje já velho e calejado, que os ecos da descoberta de jovens artistas. Há pouco, deparei-me, por puro acaso, com a obra de Samuel Pinheiro Guimarães, que de pronto me fascinou. E pela dupla convergência entre o subjetivo e o objetivo.
Quero dizer que o objetivo, ou seja, os trabalhos do artista, alia o refinamento à criatividade, fazendo produzir objetos-esculturas e pinturas que apontam para uma quase sempre comovedora defesa da Amazônia, dos povos da floresta, de seus mitos e até de suas desditas. Essa busca da nacionalidade em preservar as fontes do Brasil deveria estar sempre presente em todos nós, tanto intelectuais quanto cidadãos comuns.
Ora, esse pungente trabalho – cujo acabamento é de artista maduro e do qual se intuiria severidade e até sofrimento – é feito por um criador jovem e seguro. Samuel plasma, em termos subjetivos, uma suave alegria pelo ato de viver (e, acredito, por poder ser útil a seu país) a uma tranqüilidade severa que até me faz lembrar a de um monge tibetano.
As esculturas e as montagens (que não deixam de ser “assemblages”) de Pinheiro Guimarães – ele, de resto, não esconde a admiração pelo mestre Farnese de Andrade – são pura essência de Brasil. Fragmentos sacralizados do povo e do habitat da floresta.
Razão porque o Instituto Cultural Cravo Albin abriu seus salões para lhe exibir a primeira individual no Rio. Cuja próxima mostra poderá ser no fórum que lhe cabe: o portentoso Museu da República.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
www.dicionariompb.com.br