Nelson Rodrigues sempre me vociferava ao nos encontrarmos no Maracanã ou na sede do Fluminense: “E há alguma coisa mais avassaladora do que essa três cores que juntas destilam o frêmito da paixão?”.
Pois esse tipo de frêmito, esses esgares de paixão, essas cores de puro incêndio na retina nos levaram, a nós apaixonados pelo Fluminense e pelo Rio, às culminâncias do êxtase no jogo contra o Boca Juniors. De mais a mais, não foi esse um jogo meramente curricular, ou burocrático. Primeiro porque se decidia – e no cenário definitivo de grandeza, o velho Maraca – o tira-teima do empate da véspera naquela bobagem de estádio, a Bombonera de Buenos Aires.
E vamos logo identificar aqui o óbvio ululante: qualquer prélio contra os portenhos sempre nos faz destilar a baba da revanche, o fecundo orgulho nacional. Sempre tão içado contra os “hermanos”. E, finalmente, porque o Fluminense jamais chegara tão alto na Libertadores, velho sonho, velha decepção, soluço atravessado na garganta.
Aquela noite – pura magia – enfeitiçou os quase 90 mil torcedores. Confesso – logo eu, chorão renitente e calejado por emoções capazes de derrubar coração pétreo – que há muito não chorava num estádio, que há tempos não ficava afônico pelo puro prazer de gritar em altos brados.
Devo acrescentar que a torcida – a insuperável onda que faz atiçar o fogaréu do frisson coletivo – foi ainda melhor do que o espetáculo no gramado.
E convenhamos, o jogo foi irrepreensível. Até pelo gol do Dodô, assestado na rede portenha no segundo minuto da prorrogação. Puro gozo, cristalina culminância…
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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