A cidade de São Sebastião cumpriu aniversário há apenas uma penca de dias. Mas um certo azedume me pareceu cair neste primeiro de março por sobre os cariocas que amamos o Rio. Não sem razão.
Afinal, vários fatores conjugados nos aprisionaram em nuvens escuras, “tempo sujeito à trovoadas, chuvas torrenciais, mas com melhorias e sol promissor ao final do período”. Claro que não me move aqui qualquer paráfrase com os tempos de breu, aqueles antes, durante e depois do AI-5 de 1968 – aniversário indesejado dos 50 anos muito próximo.
Na ocasião, os jornais estampavam previsões meteorológicas nas primeiras páginas. Cifradas, é claro, para enganar a censura ferocíssima de então, e também advertir que as coisas iam mal, com prisões, torturas, banimentos, rasgos na Constituição.
Agora, as chuvas reais que desabaram, logo depois de um carnaval violento, deixaram rastros de destruição, potencializando a sanha de crimes de todas as ordens, dos quais somos prisioneiros e vitimas. Em um tempo alongado, muito alem do tolerável.
Ou seja, a insegurança urbana foi pano de fundo para se ampliarem as flechas acertadas no tecido social do Santo Padroeiro. De fato, os artefatos arremessados no Sebastião – unidade que somos todos nós – martirizam a população duplamente. Seja pelas dores do veneno, do “curare” posto nas flechas pela bandidagem, seja pela frequência dos crimes a cada mês em proporções geométricas.
Uma convergência avassaladora de fatores resume a mortificação carioca. Primeiro, a desolação de um fator ineditamente trágico: os podres poderes do Rio, todos eles, atrás das grades. Do Cabral à direção da Assembleia Legislativa. Do Tribunal de Contas aos políticos e ex-secretários de Estado.
A desdita seguiu-se com a triste impopularidade do Prefeito, ausente na maior festa-vitrine, o carnaval, e se dando o desplante de cortar verbas do evento-orgulho do pais, ao invés de ampliá-las e bem dizê-las. Alias, falando em benditos, bênçãos do Bispo-Prefeito, eu dispensaria.
Voltando a meteorologia simbólica, torço – como todos os que querem a cicatrização das pungentes feridas do Sebastião Padroeiro, que a intervenção federal (embora já atrasada) na segurança pública abra o tempo, afaste essas chuvas torrenciais. Daninhas e destrutivas.
Considero um dever de todos assoprarmos em mutirão para forjar uma ventania que afaste as nuvens de chumbo que nos infelicitam.
Não se trata de gostar ou não do atual mandatário da nação. Não se trata de apoiar um presidente impopular. Nada disso, sejamos pragmáticos, porque se trata de uma franciscana obviedade. Não torcer pelo sucesso da ação interventora é entregar o ouro aos bandidos. Se ainda a ouro a salvar…
Ricardo Cravo Albin
Presidente do
Instituto Cultural Cravo Albin