“Dedico este texto à Margareth Dalcolmo, a heroica medica da Fiocruz que por dois anos incessantes jamais se furtou a alertar os brasileiros da necessidade de preservar a vida, lutando contra a Covid-19.”
R. C. Albin
Vou evitar chamar a Omicron de pandemia porque, passados os dias de encubação do carnaval extemporâneo que tivemos há dez dias, as estatísticas se mantiveram dentro de um aumento esperado, não mais o de uma pandemia como imaginavam muitos, inclusive eu próprio, tão propenso que sempre fui a defender as medidas sanitárias, todas elas, inclusive o uso de máscaras nos desfiles do sambódromo Darcy Ribeiro.
De fato, parece que o carnaval de vinte e um de abril sofreu de amnésia (meu Deus, ninguém no sambódromo emitiu uma referência sequer ao dia da morte do herói nacional, considerado o protomártir da Independência). Muito menos houve qualquer enredo sobre nosso outro herói Pedro I, o emancipador que pronunciou o brado mais corajoso da história deste país, o “Independência ou Morte”. Isso, reclamo com razão, nos 200 anos redondos do grito do Ipiranga – 7 de setembro de 1822. Aliás, cobre-se aqui um quase escandaloso silencio das autoridades culturais e/ou históricas do país, que deveriam fazer tudo para celebrarmos o Brasil que recebemos do nosso primeiro imperador, Pedro de Alcantara, o Duque de Bragança, um estadista interessantíssimo que nos legou o mais longevo governo que tivemos, o do seu filho Pedro II, além de se ter deslocado para a Península Ibérica para impor a Portugal a Rainha Maria II, sua também filha, defenestrando bravamente o usurpador do trono, seu irmão Dom Miguel.
Quero enfatizar, contudo, uma reflexão pessoal e que está atordoando o mundo inteiro: o convívio com o vírus, passada a pandemia. Como já citei em crônicas anteriores, há oito meses viajei (Maceió-Rio) com um brasileiro que faz parte do Comitê de Cientistas de Harvard sobre a Covid-19. Ele me declarou, estávamos ainda no pique da doença, que o coronavírus veio para ficar, e se tornará uma doença endêmica como tantas outras, com mais ou menos vitimas em decorrência direta de medidas acautelatórias de saúde pública que os governos nacionais deverão prover pelo mundo. Ou seja, o que nós convencionamos chamar de “novo normal”. Esse “novo normal” deverá ocorrer (atenção para a predição de um cientista brasileiro de fama internacional em Harvard) quando todas as infecções, hospitalizações e mortos por vias respiratórias, aí incluindo as por Covid-19, não forem maiores do que as que sempre ocorrem nos anos das mais severas epidemias de gripe. A presente pandemia nos ceifou quase 700 mil vidas. Segundo o cientista a quem tive a felicidade de encontrar como vizinho de poltrona de avião, haverá quase certamente a necessidade de vacinas anuais para toda a população mundial. Tal como ocorre com o vírus da gripe. E não se discute em lugar nenhum do mundo a possibilidade de ser vacinação facultativa. Será obrigatória, como medida de saúde pública, E, é bom irmos todos nos prevenindo, os métodos de prevenção ao contágio da atual pandemia serão os mesmíssimos. Ou seja, uso de máscaras em locais fechados. A ventilação e o distanciamento devem ser obrigatórios em transportes coletivos, cinemas, teatros e escolas, isto é, em todos os ambientes fechados.
E por fim, apregoa meu precioso amigo cientista de Harvard (que pediu não citar seu nome, o que lamento), os cientistas, inclusive ele, estarão todos unidos para continuar a investigar novas drogas para combater o vírus.
A maior parte dessas recomendações privilegiadas que ouvi do brasileiro reflete tão somente o bom senso diante do que aprendemos nesses dois últimos e trágicos anos. De uma coisa, eu estarei certo: é ilusório acreditar que a vida voltará a ser como antes. O “novo normal” impõe reflexões urgentes para enfrentarmos com um mínimo de óbitos o que está por se consolidar no nosso dia a dia.
Ricardo Cravo Albin