Não de hoje sou apaixonado por emissoras de rádio. O velho radinho consolou a solidão de minhas noites quando menino era interno no Colégio Pedro II. Depois, a revolução do rádio portátil alegrou minhas caminhadas frenéticas em busca de sorver as belezas do Rio. Finalmente, o prazer do rádio ficou limitado ao carro ou à cabeceira da cama, onde antes de dormir e depois de fechar o livro fico sampleando as emissoras favoritas, para acabar – confesso – na velha e imbatível Rádio MEC.
Recentemente, contudo, guiado pela curiosidade da modernidade, fui descobrir a aventura de acessar emissoras digitais. E que mundo mais surpreendente, meu Deus. Centenas de diversidades do mundo inteiro estão ao toque do nosso dedo: música erudita, óperas, jazz, músicas pop de todos os níveis. Mas me faltava – é forçoso reconhecer aqui – uma rádio digital que pesquisasse a sedução da MPB, minha paixão definitiva. Por isso, exatamente para fornecer, aos que pensam como eu, essa sedução sem paralelos que é o canto popular do Brasil, o Instituto Cravo Albin está colocando no ar esta semana a novíssima rádio DICA da MPB, depois de anos a fio de pesquisas com o apoio da FAPERJ (a Fundação Carlos Chagas de Auxílio à Pesquisa no Rio). Graças aos céus, lá não há blábláblá de conversas fiadas. A DICA da MPB vai direto na veia. Ou seja, está transmitindo canais específicos da melhor música que sempre foi feita por aqui. A que não faltam choro, bossa nova e samba. Além de gravações originais de gente imortal como Ângela, Elizeth, Cauby, Orlando, Sílvio, Chico Alves ou Dolores.
E não é que ouvindo – em plena madrugada – um bloco de músicas que mesclava algumas dessas vozes eu me dei conta que estava com lágrimas nos olhos?
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
www.institutocravoalbin.com.br