O Instituto Histórico Geográfico do Brasil acaba de celebrar seus 180 anos, em vigorosa sessão acadêmica, a que assisti, presidida pelo historiador Arno Wellig.
Num país como o Brasil, os sentimentos de nação ainda são débeis, quase sempre oblíquos. Também pudera, com uma elite política e administrativa que se arrasta por décadas.
O Ministério da Cultura lançou um projeto que deve cuidar – por que não? – de erguer as combalidas bases do “afeto que se encerra em nosso peito varonil”.
Sempre entendi, ainda nos bancos escolares do Internato do Colégio Pedro II, que a história de uma nação será a régua e o compasso para lhe moldar o presente. Alguns, e já comprovei esse desacerto, têm a petulância, ou ignorância, de tentar construir o presente sem se dar conta de que nos habita um passado. São os fantasmas cujos ectoplasmas plantam a síntese que define os arcabouços de qualquer nação. Aliás, todos os historiadores responsáveis e de saber universal sempre batem na mesma tecla: a indagação do passado é única argamassa para se construir o presente e se presumir o futuro.
Recomendaria ao Ministério da Cultura, mesmo já em fim de governo, que uma celebração deste porte deva apontar como âncora e organizador principal o IHGB, órgão modelar, fundado por Dom Pedro II, que lhe frequentava todas as sessões. “Ó tempos, Ó homens”. O motivo principal do evento é festejar-se o óbvio, a Independência em si mesma. Há que se promover um mergulho na esquina do passado, na historicidade das consequências formais do Grito do Ipiranga, no espírito que forjou um país livre.
Em recente reunião, ouvi no IHGB uma frase saborosa – “o Brasil foi a única colônia do mundo a ser declarada liberta pelo mesmo dirigente da matriz”. De fato, pouco importa se nosso Pedro I teria tido autorização do pai Dom João VI para bradar a Independência. Pouco Importa que o Grito do príncipe fosse um quase sussurro para meia dúzia de acompanhantes. Tampouco vale a observação reles de que o rio do Ipiranga fosse um modesto riacho de margens inexpressivas.
O que de fato importa é o simbolismo do feito a ser tomado como épico, o inicio de uma nação. Deveremos centrar nossas exaltações, sejamos inteligentes, no ato histórico e suas consequências de construção. E não voltar ao blablablá de investigar apenas o país do hoje. Que não será este o fórum especifico de celebrações. Razão, de mais uma vez, recomendar às autoridades federais a coordenação geral do mais antigo órgão cultural e memorial do Brasil, o nosso precioso IHGB. Cuja gestão, de resto, é modelar e honrada por uma diretoria de grandes historiadores, presididos pelo agora também acadêmico da ABL Arno Wellig.
O exemplo de um passado épico brilhará mais que o presente de agora. Triste e sombrio.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin