Há poucos dias o escritor Ariano Suassuna levou ao velho palácio do Itamarty, no Rio, uma multidão de mais de 700 pessoas. Que sortilégio, que dengues, que formosuras possuiria um homem de 80 anos, magro, despojado de beleza aparente, calvo e ainda por cima mal-vestido, segundo ele próprio…?
Era de se ver: a platéia, de tão surpreendentemente numerosa, que espantou o incansável Embaixador Jerônimo Moscardo, promotor do evento “Encontros com o Barão” e principal responsável pela revitalização do novo espaço cultural em que se transformou o Itamaraty, a partir da homenagem a Vinícius de Moraes meses atrás. Todos aplaudíamos o conferencista, sentado timidamente numa mesinha, a cada reflexão sobre o Brasil. Pois é exatamente aí que está o encanto e o milagre de Ariano: pensar o Brasil com um despojamento franciscano, fundamentado em agudezas tão desconcertantes que inebria qualquer espectador minimamente inteligente.
Explico melhor: Suassuna, com sua translucidez e assepsia, leva a platéia ao paroxismo de uma identificação imediata. Até parece um super-star – o que de fato é – a arrastar multidões em todo lugar e que ouvem sua palavra quase que em estado de sacralidade. Nem é para menos: ele fala – com um delicioso sotaque pernambucano – verdades de um Brasil real, miscigênico, original. Um país fecundado pelo povo caboclo, cujas conexões nada têm a ver com a macaqueação estrangeira, nem muito menos com as elites pretensiosas e corruptas.
Ariano Suassuna – na monumental aula-magna com que abriu a série “Encontros com o Barão” – quis dizer e proclamar que se amar de verdade o Brasil é fácil e urgente. É tão somente mergulhar na alma simples e criativa do povo.
Ricardo Cravo Albin
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