O CENÁRIO ELEITORAL ANTES DO SEGUNDO TURNO
“Há menos de dez dias das eleições, os eleitores querem que a cabeça dos candidatos produza mais ideias aproveitáveis do que aquilo expelido pelos intestinos”. – Professor Santiago Dantas – em aula na FND da antiga UB.
Escrevo às vésperas de uma das mais sofridas eleições desses últimos anos. Sofrida, sim, porque há um quase clamor da maioria dos eleitores em relação ao baixo nível dos insultos pessoais entre os dois candidatos escolhidos pelo primeiro turno. Insultos pessoais? Certamente que o tempo empregado para as acusações mútuas de quem rouba ficou muitíssimo acima dos planos de administração das urgências que um país como este está a implorar. Quero crer que esse clamor já domina a maior parte do eleitorado. E que, por isso mesmo, Bolsonaro e Lula deverão finalmente apregoar, já nesta última semana que sobra, seus planos de governo para tentar aliviar a todos nós do nada, ou seja, da falta de ideias.
Muitos analistas, contudo, estão avaliando que a personalidade mais belicosa de Bolsonaro está a provocar inquietação e insegurança. É o caso que sinalizei como a desconfiança dele (ainda, ainda…) nas urnas, no TSE, e no resultado final. Claro para mim que o apelo do candidato do PL para que seus eleitores permaneçam ao lado das urnas e suas respectivas seções eleitorais, até a divulgação dos números apurados, soa como um disparate, uma incompreensível intimidação por parte da máxima autoridade do país. E se, digamos, os eleitores não arredarem pé depois do voto, e se uma multidão se concentrar em cada seção eleitoral, quem garante que isso não resulte em violências verbais, a um passo das físicas? Não teria ficado claro ao PL que os candidatos bolsonaristas obtiveram resultados mais que positivos, muitos acima das pesquisas? Essas sim, objeto de explicações mais detalhadas das empresas de consulta pública, com o dever de fornecer dados mais próximos dos das urnas.
Como boa parte dos meus colegas que analisam as eleições, parece-nos a quase todos um despropósito essa cantilena esdrúxula de desqualificar votos, até porque o primeiro turno foi considerado exemplar pelas dezenas de observadores internacionais. Além do Ministério da Defesa, que ao que tudo indica aprovou 100% os resultados positivos obtidos pelo partido governista. Quero crer que as Forças Armadas, refiro-me ao importantíssimo Ministério da Defesa, já deva ter publicado o seu “nada consta” (embora atrasado) em relação ao primeiro turno. Primeiro e óbvio passo para antecipar créditos às urnas neste segundo turno.
Há que se deduzir – e o eleitorado hoje está a indicar com clareza essa intenção – que as eleições devam ser limpas. Portanto, provas testemunhais de que no Brasil não se roubam mais votos. Como em passado nem tão remoto assim de votos escritos, um a um, em mãos de apuradores nem sempre confiáveis.
Meu estimado amigo Luis da Camara Cascudo, um dos homens que melhor desvendou a alma deste país contraditório, foi reconhecido como o sábio do Natal. A ele eu visitava no Rio Grande do Norte com certa assiduidade para beber-lhe da exata compreensão de como o certo é mesmo o certo, diferenciado do errado. Cascudo pontificava com o seguinte pensamento: “Fique de olho quando as teses aparentemente não se sustentarem. Porque a possibilidade de elas serem falsas de fato sobe a quase 90%.”
Por favor, rogo a Bolsonaro e também a Lula, que acalmem o país. Não proponham insultos pessoais. Nem desconfianças às vésperas de centenas de milhões de brasileiros irem às urnas. Queremos planos de governo. Esperanças. E não palavrório ofensivo. Queremos ação de pensamentos viáveis, com a cabeça centrada nas prioridades. E nunca nos intestinos a evacuarem o que precisa descer pelas descargas das privadas.
Ricardo Cravo Albin