Acabo de ler artigo de Arnaldo Niskier, em que o acadêmico sublinha a importância de projeto originalíssimo do também educador Carlos Alberto Serpa, o aprendizado da música erudita nas escolas, dado à lume pela ágil Cesgranrio.
Ora, em tempos de esquisitices esdrúxulas, como a do Ministério da Educação ousar podar a matéria “Educação Artística” das escolas brasileiras (de que Niskier também reclama, coberto de razão), Serpa entregou à pianista Carol Murta Ribeiro (presidente da Academia Nacional de Musica) o projeto “Música Erudita nas Escolas”, distribuindo de imediato 30 mil unidades aos alunos dos ensinos fundamental e médio.
Ao final do artigo, Niskier abre janela generosa (e necessária) ao sugerir ideia semelhante para a música popular.
Este escriba desenvolveu no Instituto Cravo Albin em 2010, e não há porque deixar de registrar aqui, o projeto “MPB nas Escolas”. Uma pasta escolar que foi aplicada com sucesso em toda rede estadual do Rio pela corajosa Secretária Teresa Riff Porto. Agora, que boa noticia, as mesmas pastas serão entregues pelo Desembargador Siro Darlan ao sistema penitenciário de Bangu, como um aprendizado das fontes da cultura e da poesia cariocas. Esta ideia foi estimulada pelo Embaixador Jerônimo Moscardo, idealizador de outro projeto criativo, “Filosofia na praia de Copacabana”. Daqui a poucas semanas, das areias da Zona Sul a cultura será replicada atrás das grades para a multidão privada da liberdade. Que nada faz, e pouco aprende…
A história da música popular do Brasil é estimulante para definir as várias qualificações da alma do povo miscigênico que nós somos.
Tanto as letras das músicas quanto a diversidade de seus ritmos permitem à qualquer pessoa um mergulho em profundidade na alma, simples ou por vezes mais sofisticada, desta nossa “civilização tão cafusa e original”, como vaticinou Gilberto Freire.
De mais a mais, e insisto, as letras (sobretudo elas) inferem toda uma conexão muito conveniente com a literatura, a poesia e a história do país, de modo direto e simples. E nossos ritmos – o cadinho mágico dos gêneros musicais – exibem opulentamente a magia da ginga, da dança, da sensualidade, e até da ingenuidade de um povo argamassado pela mistura das três raças formadoras.
Por tudo isso, clamo de há muito que não há nada mais eficaz do que ensinar-se estas historias nas escolas municipais e estaduais. E agora, atrás das grades.
É verdade que aqui e acolá a gente sabe de tentativas de introduzir-se a MPB em escolas. Não bastam aulinhas de violão ou de coral. Ou meras oficinas de percussão.
Considero fundamental que se insista em contar esta riquíssima história, a de seus míticos compositores/intérpretes e a dos seus gêneros musicais. Que maturaram o melhor da alma carioca na rolança de quatro séculos.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin