Às vésperas de Natal, podem ocorrer fatos surpreendentes. Há pouco assisti à inauguração da Orquestra de Câmara e do Coral da Arquidiocese do Rio, em concerto dentro da Antiga Sé, na Rua Primeiro de Março. E quando surge uma nova orquestra, as esperanças se reacendem. Afinal, música, no Natal, dentro de uma igreja nobilíssima, solistas e naipes conduzidos pela competência de Carlos Prazeres, as presenças tutelares do Cardeal Eusébio e de Carlos Alberto Serpa (este o Presidente da Associação Cultural da própria Arquidiocese, que acaba de presidir o Prêmio São Sebastião para a Cultura). Tudo isso soma, agrega, provoca sentimentos de conforto, de esperanças, de festas. E também de reflexões. Que incidem na magia da música e na possibilidade de ela ser mais ouvida na solidez dos templos religiosos. Até porque há uma unção, uma benéfica conjunção de mão dupla na integração de ambos. Ou seja, fruição da música num cenário adequado, que faz reluzir a sacralidade do respeito, do silêncio, da contrição.
Aliás, falando em música às vésperas da celebração do Menino Deus, quero reiterar daqui meu inconformismo com o ramerrão de indigência do “jingle bell” de sempre, apregoado como peça única para o Natal. Convém lembrar que foram feitas no Brasil músicas convenientes para o repertório natalino. Eram robustas coleções de canções que existiram na Era do Rádio, de 1930 a 1970. Boas Festas (de Assis Valente) e Natal das Crianças (de Blecaute) são exemplos que, tocados com a apetência que o concorrente americano sempre mereceu, virariam hinos definitivos e inquestionáveis. Vamos tentar?
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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