Sempre achei adorável falar bem dos meus amigos. Há quem não goste, seja por pura caturrice, seja por escrúpulos, que fogem, a meu aviso, a qualquer razão objetiva. Especialmente nós, os jornalistas quando nos referimos a nós próprios. Tudo isso para lhes garantir que Murilo Melo Filho, ao chegar aos 80, mantém o mesmíssimo frescor de alma e de generosidade de quando o conheci, há quarenta e tantos anos.
Acode-me agorinha mesmo uma cena: encontrei-o pela primeira vez, na velha Manchete, ao lado da Lemos Brito. Murilo conversava com Adolpho Bloch e, ante meu espanto ao ver uma foto dele ao lado de Kennedy, prontamente me prometeu cópia. Que, de fato, me chegou à casa no dia seguinte, generosamente dedicada.
Essa prestimosidade, essa alma sem jaça, sempre qualificaram o homem e o jornalista político. O potiguar que chegou ao Rio a bordo de avião que pousava nas águas da Baía (no hangar da Panair do Santos Dummont) tomou-se de paixão pelo Rio. Que o acolheu. E que o consagraria como um estilista do jornalismo político, na linhagem de Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Castello Branco e Villas Boas Correia. Este último, na mesa de honra da bela sessão da Academia em sua honra, definiu Murilo como mestre na arte difícil de fazer-se amigo de seus entrevistados sem ficar a reboque deles.
Murilo Melo Filho – cujas entrevistas com quase todos os personagens fundamentais dos anos 60 e 70 constituem fragmentos de puríssima história contemporânea, vazada em estilo ágil, elegante, sem adjetivos – chega aos 80 mimoseado não apenas pela juventude de alma como também, o melhor, por um corpo de adolescente.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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