A comparação entre pessoas, ou profissões, ou mesmo homem-mulher, pode ser objetivo de definições estéticas controversas, quando não de deformações injustas, e até descabidas.
Parece não haver dúvida, contudo, que o jogo de confrontos sempre foi excitante desde que o mundo é mundo. Eu, por exemplo, convivi com comparações a partir da organização do Museu da Imagem e do Som, quando lá criei festivais de música popular, erudita, e até mesmo carnavalesca (para tentar melhorar o nível das marchinhas e sambas, então em deplorável decadência).
Acaba de sair agora o resultado de uma votação especialmente original e, quero crer, nunca tentada antes. Em celebração aos 450 anos do Rio, e sob os auspícios do Comitê Rio-450 anos, definiram-se os escritores mais votados – por júri de 84 intelectuais – que reverenciaram o Rio em suas obras, ou moraram na cidade. A idéia vicejou a partir da Academia Carioca de Letras (razão óbvia da escolha se limitar ao Rio), que logo colheu o apoio e a parceria da Fundação Biblioteca Nacional. Pois bem, dentre os 45 escritores votados extraíram-se os dez mais, que merecerão acarinhamentos estimulantes, como palestras, e até livros que remetam a cada um deles.
Surpresas sobrevieram na depuração dos votos. Machado, Lima Barreto ou João do Rio eram esperados entre os três primeiros. Surpresa foi a preferência do Grande Júri pelos contemporâneos Nelson Rodrigues e Rubem Braga (em 4º e 5º lugares).
A controvérsia mais desafiadora foi a inclusão de apenas seis mulheres entre os 45 selecionados, das quais Clarice Lispector e Cecília Meirelles foram as mais votadas. Não, contudo, dentro do panteão dos dez votados. Só por curiosidade, as outras quatro (Raquel de Queiroz, Carolina Nabuco, Gilka Machado e Ana Cristina César) incluem apenas um personagem da atualidade recente, e que é a última das citadas, Ana Cristina. Escusado observar que o Jurí só considerou os escritores mortos.
Preconceito contra a mulher? O feminino inferior ao masculino? Homens escrevendo melhor que mulheres? Apostem suas fichas.
10 de julho de 2015
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto
Cultural Cravo Albin