Os filmes de longa-metragem sobre nossa MPB proliferam nos nossos cinemas – e que bom que isso ocorre. Essa, aliás, é uma referência muito recente, que só se instalou no Brasil para valer a partir desta última década.
O mesmo não se pode dizer dos livros sobre a música popular brasileira. Seus lançamentos contam-se nos dedos, um número esquálido frente à opulência da matéria. Não há a menor dúvida, de resto, em se afirmar que a história, os personagens, os ritmos do cancioneiro popular constituem e resumem um dos braços mais significativos para definir a alma do Brasil, na sua extraordinária profusão de coloridos, diversidades, estágios culturais.
Tudo isso vem agora à baila porque acabam de me chagar às mãos cinco livros importantes que qualificam a historiografia da música popular. Os quatro primeiros são editados, para surpresa geral e, sobretudo de nós, cariocas, pela Imprensa Oficial de São Paulo. São belos ensaios biográficos sobre quatro vultos que se fizeram popularíssimos a partir do Rio e do seu cadinho de seduções como a era do rádio nos anos 50, os filmes da Atlântida ou as buates que dariam parto à Bossa Nova. O primeiro deles é dedicado à querida atriz, cantora e acordeonista Adelaide Chiozzo e se intitula “O acordeon e o beijinho doce”, escrito por Patrícia Rodrigues. O segundo título, “O maior ídolo dos anos dourados”, já diz tudo: é um sólido tributo ao cantor Francisco Carlos “El Broto”, do pesquisador incansável que é Jonas Vieira. Já o terceiro livro, do estudioso do Rio, João Carlos Rodrigues, dedica-se a por de pé a biografia de Johnny Alf, pioneiro da Bossa Nova e um dos músicos/compositores mais influentes durante quase cinqüenta anos.
O quarto volume da coleção “A incomparável”, da jornalista Diana Aragão, absorve com paixão cantora Marlene, uma das mais celebradas rainhas do rádio.
Referi-me acima a um quinto livro e que também é uma grata surpresa: este vem do Ceará e acumula a experiência de um dos mais sérios pesquisadores do país, o Nirez, pseudônimo de Miguel Angelo de Azevedo. Intitulado a “História cantada no Brasil em 78 rotações”, exibe precioso painel das músicas gravadas nas velhas bolachas que acompanharam, como comentários musicais convincentes, a história política do país. Papa fina…
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin