Há dias fui ao Museu Histórico Nacional para assistir à inauguração da exposição de arte contemporânea promovida pelo sistema FIRJAN em homenagem à memória de Marcantônio Vilaça. A mostra é excelente e o Museu Histórico Nacional está cada vez mais acolhedor, com a diretora Vera Tostes reinventando o espaço e a tudo inflando de paixão. Mas o que me comoveu foi a lembrança de Marcantônio Vilaça, um jovem extraordinário que a morte ceifou em pleno viço de vida e de criatividade. Marcantônio – a quem acompanhei na aventura de selecionar os talentos da arte contemporânea – desbravou o acanhamento dos colecionadores, garimpou as pepitas plásticas mais audazes. E fez história: o generoso relato de quem não temeu o novo e mandou às favas o conformismo burguês e acomodado dos estetas covardes.
Quando revi no local o casal Maria do Carmo e Marcos Vinícios Vilaça – pais do homenageado – já sabia que emoções estariam por se precipitar na noite fria do vernissage. Emitida com voz pausada e solene, mas dignamente triste, a fala do pai extremado comoveu até os canhões de ferro em exibição na entrada do Museu.
Quanto a nós, público que deveria ser bem maior ante à beleza do acontecimento, escondíamos lágrimas furtivas que teimavam em rolar ante à pungência e discreta elegância das palavras do acadêmico e escritor. Verdade e amargura se entrelaçaram quando Vilaça-pai disse que Vilaça-filho estava ali, sim, presente e vivo. E apontou, em gesto de arrebatada simplicidade, para Maria do Carmo, a mãe dolorosa que vela a cada dia pela memória do filho.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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Título original: Saudades de Marcantônio Vilaça