A palavra “legado” do título deste artigo até pode parecer herança, bens materiais deixados por quem morre. Pois saiba o caro leitor que é quase o oposto. Esse legado de finados de que trato agora não é senão um projeto inspirado pelo dia dos mortos, que transcorreu há pouco. Observo que certas pessoas não preservam os túmulos de entes queridos, ou por preguiça ou por pura falta de dinheiro. Insisto, contudo, na necessidade de se refletir melhor sobre a morte, evento tão certo e tão necessário. Ou melhor, refiro-me aqui a um olhar sobre túmulos. No nosso caso, os de personalidades ligadas à música, popular e erudita.
Isso porque está sendo assinado nesta semana um convênio pioneiro, originalíssimo e até provocador, quando não carinhosamente piedoso, entre o INEPAC e o Instituto Cultural Cravo Albin para… mapear túmulos. Isso mesmo: cerca de 200 personalidades da música – intérpretes, compositores e músicos – serão identificados em sua última morada. E um roteiro musical será finalmente estabelecido nos cemitérios cariocas São João Batista, do Caju e do Catumbi. Muitos desses túmulos estão exemplarmente conservados por seus descendentes e/ou familiares, como os de Cazuza e Carmen Miranda. Outros, nem tanto. E alguns até miseravelmente saqueados, semidestruídos. O objeto final do operoso Presidente do INEPAC, o arquiteto Marcus Monteiro, é editar (em conjunto com o Instituto Cultural Cravo Albin) um livro de tombamento do inédito mapeamento dos túmulos do povo da canção ou do samba. Afinal, o nosso Rio, o Rio do Aeroporto Tom Jobim, é a cidade mais musical do mundo…
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
www.dicionariompb.com.br