Ah! As feiras literárias…. São a paixão de todos os que gostamos da aventura dos livros, da literatura, do conhecimento. Para mim, o melhor delas começou mesmo com as estridências inesperadas da primeira FLIP, já lá se vão muitos anos. Esta de 2017, que se encerrou há dias, ainda hoje repercute em palestras e polêmicas dentro de livrarias e centros literários. Compareci à primeira FLIP, nem me lembro mais quando. Lá voltei muitas vezes, a palestrar em algumas, a lançar livros em outras tantas. Sólida e resistente, a FLIP de Paraty encanta sempre pela diversidade, pela teimosia e pela audácia de ser internacional, a partir do sonho da extraordinária mulher que a criou, agregando duas belezas, a cidade histórica e os livros, uma mesclando e matizando a outra. Este ano Paraty reluziu com a homenagem focada em Lima Barreto. Vocês, leitores menos afeitos à literatura, fazem idéia da importância deste nome? Para dizer-se o mínimo, ele foi o maior escritor carioca de seu tempo (e de vários outros tempos), uma flor literária de altíssima voltagem que desabrochou nas duas décadas iniciais do século passado. Mulato e pobre, mas febril em idéias e indignado com as injustiças, Lima cativou minha geração. Tanto pela unicidade do estilo, quanto pela coragem de vomitar verdades em golfadas de originalidades nunca vistas nesta terra. A literatura patinava quase sempre na imitação do estrangeiro, na impostura do preconceito. Pois Lima Barreto foi capaz de construir uma obra homogênea e rara, cujo grito ecoará sempre – “liberdade ou morte”. A liberdade compreendida por ele como a libertação dos grilhões de uma burguesia engomadinha e burra – na verdade até espertíssima, em defender os preconceitos e conceitos de suas castas sociais ou raciais.
O simples fato de homenagear este ano Lima Barreto já seria suficiente para todos amarmos a FLIP que se encerrou semana passada.
Voltando a meu entusiasmo pelas feiras literárias, o espaço mínimo de que disponho nesta página castra minhas intenções de abordar com vagar as duas outras que anuncio no título desta croniqueta. A FLAPE (a dos amigos do Portugal de Eça) foi a menor feirinha do mundo, era a declaração do amor a Eça de Queiroz por parte de uma reunião de uma dúzia de adolescentes ao começo dos anos 60 em Laranjeiras. Pretenciosissímos, só admitimos à FLAPE quem também fosse capaz de ler nosso Lima, contraface carioca de Eça na crítica aos costumes, que exigíamos ácida e cortante. A outra, a FLUPP, é a feira das favelas. Esta, sim, uma idéia redentora que estimula os livros e a afirmação literária de comunidades desassistidas. Desta feira, uma feirona cultural que vai muito além, de xxx blá-blá-blá queria falar a não mais acabar. Mas o que acabou agorinha mesmo foi o espaço. Prometo que voltarei à FLUPP.