Dizem que o Brasil é o país do carnaval. A verdade é que, embora já em plena quaresma, ainda é cabível comentar-se aqui alguns ecos desse brilhante carnaval carioca de 2007. Não posso deixar de registrar dois eventos pontuais que me marcaram. E – ambos ligados à Mangueira – ainda perduram na memória coletiva da cidade. O primeiro – o que preserva uma lembrança inesquecível, ao menos para mim – foi a presença dos cinco acadêmicos da ABL no último carro.
Saudando a língua portuguesa, era no mínimo comovedor, mas também corajoso e revelador das intenções renovadoras da sisuda Academia Brasileira de Letras – cinco intelectuais de primeira linha acenando para a platéia monumental. Fiquei enternecido ao verificar a consagração que foi deferida a imortais do porte de Antônio Olinto, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Ivan Junqueira, liderados pelo próprio presidente da Casa de Machado de Assis, Marco Vinícius Vilaça.
Antepondo-se a esse momento de reverência e amálgama das culturas popular e erudita, definidoras do povo brasileiro no que tem de melhor, houve o incidente da mesma Mangueira com Beth Carvalho. Ora, não há como separar afetos consolidados. Terá sido a contraface indesejada da beleza que a velha escola de Cartola sempre exala. Não há como deixar de proclamar daqui aos meus amigos da diretoria da Mangueira: por favor, Beth merece, sim, um pedido formal de desculpas. Daqui ofereço o Instituto Cravo Albin para celebrarmos a paz na velha escola.
Flores e acarinhamento sempre serão recomendados à maior intérprete do samba e que sempre orgulhou o país. Afinal, como diria Cartola, as flores exalam o perfume que também roubam da “enamorada do samba”, como a ela se referiu em cantoria o nosso igualmente eterno Martinho da Vila.
Ricardo Cravo Albin
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