Amanhã, em vários pontos do país, o Brasil ainda chorará o desaparecimento de Dominguinhos, ao 7º dia de sua morte.
Quando me refiro a ele, não apenas me bate uma saudade pessoal muito sentida, mas, sobretudo, e como historiador, o sentimento de um vazio aflitivo para a alma do cancioneiro deste país.
Conheci Dominguinhos há décadas, quando – imaginem – me foi apresentado por seu padrinho artístico Luiz Gonzaga, ele mesmo, o lendário Reio do Baião. Vale registrar que naquela época a música dita regional ainda não era realçada pela mídia como hoje.
Luiz Gonzaga, cuja casa eu frequentava desde que ele morava na Ilha do Governador, registrou-me seu entusiasmo por Dominguinhos de modo comovedor: – “Esse aqui é um cabra da peste do bom. E olhe que quando digo isso é porque ele tem tudo para me substituir”. E, piscando olho, acrescentou “Só não tem a beleza…”. De fato, Gonzaga, a quem até hoje me recuso a chamar de Gonzagão (embora ele seja superlativo, mas não carece do modismo para diferenciá-lo do filho Gonzaguinha), foi profético em relação ao talento, ao charme, à descontração e à configuração espontânea do astro que Dominguinhos sempre ostentou.
A última vez que o vi, há aproximadamente um ano, no começo dos festejos do centenário de Gonzaga no Recife – onde proferi palestra sobre importância do Rei do Baião para a cultura nacional – Dominguinhos já estava abatido e doente. Mas nele pude perceber uma luz, um brilho intenso no olhar. Pouco antes de se exibir para milhares de pessoas no centro da Capital, Dominguinhos me disse que minha presença sempre lhe remetia à saudade do Mestre.
Abraçou-me enternecidamente, concluindo que ia dedicar seu show à estrela do Luiz Gonzaga que brilha no céu. E acrescentou, em termos proféticos: “A próxima estrela, mas bem pequenina, serei eu”. Erro de cálculo de Dominguinhos; sua estrela no
céu sempre será de primeira grandeza.
Ricardo Cravo Albin Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin