Os passos que impulsionam a trilha do conhecimento e dos saberes do homem passam pela necessidade de reflexões sobre a memória do que veio antes, da anatomia da história, das chamadas raízes. Que muitos engraçadinhos reacionários e cegos têm a petulância de relacioná-las às árvores. Burrice que muitas vezes ouvi de certos compositores quando exortados a consideram as fontes da música popular e sua grandeza.
Há dias assisti à posse de Dom Orani, Cardeal-arcebispo do Rio, no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB).
Algum desavisado poderia argüir que um ato como este poderia ser corriqueiro e não mereceria atenções mais detalhadas deste escriba. Engano e falta de cultura. Porque o IHGB, fundado a séculos dentro do Rio, preserva praticamente a fonte das coisas, o terreno da memória, num país desprovido de atenções com seu passado
Pois bem. Dom Orani, um Cardeal missionário e evangelizador, que acolhe com igual intensidade a população carente (seu rebanho preferencial) e as fontes que a consolidaram ao longo dos séculos, foi recebido como sócio na austeridade quase clerical do Instituto. Seu Presidente, o historiador e acadêmico Arno Welling , ao falar dos 25 sacerdotes que o antecederam na Casa, recepcionou o Cardeal com intensas palavras de saudação e de cultura. Ao que Dom Orani respondeu com afiadíssima oração laica, que perfilou a grandeza de um dos fundadores do Brasil, o Padre José de Anchieta, polígrafo sábio e santo, que fez provocar na terra cabralina as primeiras incursões da fé e do saber europeu. Puro deleite e erudição. O Cardeal traçou perfil revelador do jesuíta Anchieta – o maior dentre todos – que testemunhou ( e escreveu crônicas decisivas, grandíssimo escritor que foi) a fundação da cidade do Rio, ao lado de Estácio de Sá, ajudando-o, dando-he conselhos…e orações. Um discurso perfeito para adentrar à Casa da História nos 450 anos da cidade de São Sebastião.
01 de maio de 2015
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto
Cultural Cravo Albin