“Qualquer tribuna, do boteco a um tribunal, cabe para defender a ordem democrática.” – Hermes Lima, premier e jurista.
Quero comentar hoje um assunto que sempre obteve o foco principal de minhas atenções, o ensino, muito em especial o universitário.
Mas cabe antes registrar o acontecimento principal desta segunda-feira quando escrevo, a solene diplomação do Presidente e seu Vice no Tribunal Eleitoral. Houve apenas dois discursos, o do Presidente eleito já diplomado e apto a assumir o poder no próximo dia primeiro do ano, e a fala do Presidente do Tribunal, o Ministro Alexandre de Moraes que presidiu todo o processo eleitoral.
Ambas as falas foram, do começo ao fim aplaudidíssimas em defesa da democracia e em referências sistemáticas aos ataques de grupos identificados, segundo o Ministro, embora jamais nomeados. Mas a serem responsabilizados em tempo devido.
Quanto a Lula, ao se diplomar pela terceira vez no mesmo Tribunal não pode segurar a emoção (e o pranto) ao se referir a si mesmo como um Presidente por vezes até desdenhado por não possuir um diploma universitário. Acusou grupos, jamais pessoas, de tramarem por inúmeras vezes a derrocada da democracia. E procedeu enfática defesa dos Tribunais, o Supremo e o Eleitoral, por defenderem o sistema eleitoral brasileiro (consagrado no mundo) tanto quanto o repúdio a qualquer possibilidade de golpe de estado por parte dos inconformados. Seus opositores, por acaso? De nenhum modo os adversários de Lula e do Presidente do Tribunal foram sequer bafejados, até por inflexões inversas.
Anotei, com grande prazer, a eloquência da elegância no silêncio a nomes e o impecável comportamento político de ambos os discursantes, aplaudidos de pé por vários minutos.
Bela aula tanto de bons modos públicos quanto de sutilezas. De mais a mais, os opositores de ambos ficaram claríssimos para o auditório repleto. Desde o começo a ouvir em respeitoso silêncio suas candentes defesas à democracia, à liberdade de imprensa e ao sistema eleitoral brasileiro.
Poderia me deter agora nos novos ministros já anunciados, mas espero aguardar a lista completa que está chegando por aí.
Enquanto isso, chamo a atenção para quem for o novo Ministro da Educação das cavilosas dificuldades do ensino superior, praticamente em estado de penúria e de desproteção, jamais experimentados até aqui. A situação das universidades públicas é desastrosa e para nós, observadores mesmo de fora, carece de socorros urgentíssimos do novo Presidente. Só para citar a minha querida UFRJ, a reitoria anunciou quase aos soluços que não há recursos neste mês sequer para pagar a estimada Bolsa Permanência, auxílio que alunos de baixa renda sempre tiveram para honrar bolsas acadêmicas de extensão, monitoria e iniciação científica.
Essa asfixia financeira é consequência, ao que tudo indica, da transferência de recursos para a gastança, sem pé nem cabeça, para as “bondades” do Governo Federal nas eleições.
O Ministro da Educação, o Sr. Victor Godoy, quinto titular (!!) da pasta nos tempos Bolsonaro, chegou a admitir ao governo da transição que o MEC não tem sequer dinheiro para pagar os cerca de 14 mil médicos residentes nos hospitais universitários. Meu Deus! E o pior, 200 mil bolsistas já deixarão hoje, hoje (!), de receber seus já minguados recursos.
É sintomático, mas inconcebível, que o Ministério da Educação seja o bode expiatório da gastança sem limites do período eleitoral. Não à toa, acabo de saber que o Tribunal de Contas da União (TCU) já teria mapeado 30 mil indícios de irregularidades, na aplicação do FUNDEP (Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa).
Cabe ao governo agora já diplomado pagar as bolsas aos estudantes carentes, para tentar abortar, mais uma vez, nosso pranto comum pela desigualdade na educação.
Presidente Lula, aja rápido!!!
Ricardo Cravo Albin