A Urca é sempre celebrada como o bairro padrão de uma cidade por vezes caótica como o Rio. E por várias razões, a começar por suas duas praias abertas ao público, a Praia Vermelha (ao lado da Estação do Pão de Açúcar) e a Praia da Urca (em frente ao antigo Cassino). Refiro-me às praias abertas porque as há fechadas (duas) pelo Exército, em área militar, mas também ao sopé da montanha ícone do Rio. Essas praias preservam, sobretudo a da Urca, dentro da Baía de Guanabara, uma bela história, a que não faltam águas translúcidas e peixes em abundância. A tal ponto que se registram crônicas de época (séculos XVIII e XIX) que assinalam a profusa existência de golfinhos e até baleias que pariam filhotes em suas águas apascentadas.
Pois bem, neste último meio-século tudo o que a mãe natureza tramou com tanta delicadeza ficou abjetamente poluído. Hoje, tanto as praias da Urca quanto todas as que ficam dentro da Baía são impróprias para banho, tal a quantidade e desordem das toneladas de esgoto recebidas por ela, o que a degenera e a invalida.
Há poucos dias, contudo, participei de um encontro – um café da manhã oferecido pelo Presidente da CEDAE, Wagner Victer – em que ele, Victer, e o Secretário do Ambiente Carlos Minc reacenderam esperanças nos combalidos corações dos que verdadeiramente amam o Rio. O projeto, elaborado por um longo naco de tempo e de estudos, anuncia a despoluição das pequeninas e gráceis Praia Vermelha e da Urca. Ora, uma notícia desse porte, de tão alvissareira, é para ser comemorada pela cidadania carioca.
E mais: enquanto anuncia um benefício, já pode prenunciar que outros virão em sequência, ou seja, a balneabilidade das praias do Flamengo, de Botafogo e as que as faceiam em Niterói, sobretudo Icaraí.
Portanto, a despoluição não apenas do entorno, mas também do miolo central da Baía, isto é, sua totalidade, está por começar. O que reaquece nossos corações em vê-la limpa para as Olimpíadas de 2016. Acode-me aqui uma frase de Tom Jobim – amante do Rio e da preservação – em conversa espichada comigo na Urca, apontando para a Baía: “Meu maior desejo é ver esta maravilha tão limpa que eu possa gargarejar com sua água.”
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin