Elza Soares – capa da revista Carioquice que esta semana circula por todo o país – é exemplo acabado da essência da publicação que a homenageia. A carioquice, esse delicioso estado de vivenciar o Rio, esse sentimento quase indefinível que nós, cariocas, sabemos o que significa porque o intuímos com paixão, é a linha editorial da Carioquice. A publicação trimestral é editada pelo jornalista Luis César Faro e distribuída para quase 10 mil brasileiros ilustres das áreas mais variadas, que vão dos intelectuais aos homens de negócio. A bela revista cultural se consolida, em seu terceiro ano, como objeto de coleção e… de desejo. É hoje uma dessas raras publicações que se forem deixadas em lugar público, acabam por sumir em poucos minutos.
Elza – cuja vida heróica, sofrida, acridoce nas nuanças mais diversificadas, é esquadrinhada na pungente matéria de capa da revista – representa pura argamassa do estado de ser carioca. Que vai da vida na favela levando uma lata d’água na cabeça para dar de beber a muitos filhos, todos paridos antes dos 21 anos, até ao ato de viver (como em toda sua vida) em estado de amar. E de ser hoje amada aos 71 por um homem três vezes mais moço. Elza ostenta, pois, uma idade aparentemente avançada, que eu não avalio senão como desabrochante, apaixonada e perfumosa como uma flor orvalhada pela manhã.
Razão tem o cronista Joaquim Ferreira dos Santos, aliás, citado na reportagem, quando se refere a esse monumento carioca, esculpido em formas curvilíneas, apetitosas e ainda perfeitas, com a frase “agora já sei o que é resistir às desgraças e dar a volta por cima”.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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