Na última quinta-feira, o Museu da Imagem do Som foi celebrado pelos 50 anos de existência. A Sala Cecília Meirelles regurgitava de gente para assistir à solenidade da entrega de medalhas comemorativas. Aliás, cunhadas em palco – com martelinho e tudo, com direito às três batidas clássicas – pelo governador Pezão e por Rosa Maria Araújo, a operosa Presidente do MIS. Mas não quero, nem devo, declinar aqui a emoção por que fui tomado. Mas ela foi fortíssima. Ali desenrolava-se, ante meus olhos úmidos, a parte da trajetória singrada por minha própria vida. É que assumi a direção do museu, que ninguém sabia bem o que era, poucas semanas depois de inaugurado em 1965. Antes de completar 25 anos, via-me frente ao desafio que parecia não ter começo, e que eu pressupunha não ter fim.
Para fazer curta uma longa e sofrida, mas estimulante história: eu sempre lá trabalhei de graça por indicação expressa da Fundação Vieira Fazenda, que o abrigava. Mesmo sendo uma fundação, o museu passou a não ter os recursos que vinham da instituição que o construiu, o Banco do Estado da Guanabara (BEG) que deveria mantê-lo. E faltava ao MIS um caráter que lhe determinasse reconhecimento público. O que o deixou vulnerável junto ao mantenedor, o Banco do Estado. Fazia-se urgente que o MIS colocasse a cabeça de fora, ante que fosse decepada no nascedouro pelo novo presidente do banco.
Mas a cabeça foi salva por uma originalidade absoluta em 1960, as gravações com personalidade, os depoimentos para a posteridade. Que pipocaram no meio cultural daquele inesquecível começo de 1966. Paralelamente a eles, vieram cursos diversos, edições de discos, shows beneficentes, uma revista mensal (Guanabara em revista), e os também famosos prêmios, Golfinho de Ouro e Estácio de Sá, para os melhores criadores e propulsionadores de arte em sete setores específicos do MIS (música, cinema, literatura etc).
E aí se foram sete anos de minha vida, criando eventos, consolidando novas idéias, fazendo dos meus 25 uma arma de resistência e afirmação. E como dizia o bolero cantado por Emilinha, aí se passaram 50 anos, num piscar de olhos. E agora posso sorver a alegria de ver o MIS, o meu amado desafio, prestes a vestir roupa nova, em Copacabana, bordada com os fios do futuro, ajustada pela tesoura de arquitetura perfeita, passada a ferro com o calor da consagração e da bem querência dos cariocas.
Tudo isso é demais. Demais para velhos corações…
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto
Cultural Cravo Albin