Que a nossa brasileiríssima cachaça e seu derivado mais imediato, a caipirinha, são produto que estão na mente, no coração e, sobretudo, na boca dos brasileiros, sempre soube.
Ouvindo há dois dias uma palestra no Conselho de Turismo da CNC, espantei-me com a charla do meu caro Cláudio Magnavita, hoje (e em boa hora) o Secretário de Turismo do Estado. Ele dizia, com todas as letras, e com toda razão, que a cachaça é agora um produto de forte apelo mundial, no mesmo patamar de congêneres como tequila, rum, eau-de-vie e poucas outras.
Ou seja, nossa cachaça ejeta-se do sombrio passado de escárnio para alçar-se a uma bebida premium, de acolhimento universal.
Cláudio ainda comparou a antiga “marvada”, ou “caninha”, a um ativo cultural do Brasil, além de commodity em ascensão, acrescentando que o Estado do Rio produz o que há de melhor no gênero. Eu anotaria que ela está a caminho de se ombrear, como objeto de desejo, à imbatível luminosidade da nossa música popular, que como sabemos, talvez seja o principal item artístico do Brasil no exterior. Até pelo imediatismo da audição. Na cachaça, o paladar aguça e faz aflorar o sabor, tal como o uísque ou o conhaque. Magnavita alertou para a necessidade de investirmos em campanhas publicitárias destinadas à maior expansão dela, já que sua sequência prioritária, a caipirinha, triunfa entre os drinques mais solicitados do planeta, como o Cuba Libre ou o Dry Martini. Adverte ainda o Cláudio que o absurdo e a falta de auto-estima, e eu aduziria ainda o histórico preconceito, não automatizam o que deveria ser tão natural quanto obrigatório. Ou seja, que em cada frigobar de hotel estivessem presentes garrafinhas da mais fina aguardente. Bem como em todos os bares do Brasil, ao lado de garrafas de uísque. Sonho ou patriotada? Certamente que não. Afinal a bebida típica do país porta agora a sobriedade (com trocadilho, por favor) das culturas das gentes brasileiras.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do
Instituto Cultural Cravo Albin