Daqui deste cantinho onde me cabe comentar fatos culturais ou pessoas a eles ligadas, sirvo-me hoje da esperança geral, que sempre permeia os corações ao começo do ano, para considerar sobre caviloso tema centrado numa polêmica semântica: é terrorismo, ou não, a situação de violência a que o Rio acaba de chegar?
No debate – cultural, sim, mas de essência política – envolveram-se jornalistas de referência como Alberto Dines e Merval Pereira. Quero observar – já que clamo publicamente pela imprensa, há mais de dez anos, pelo socorro de tropas ao Rio pelo omisso governo federal – que a questão semântica sobre terrorismo é pura parolagem. Perda de tempo, acadêmica e obtusa, para NÃO agir. Ora, se a palavra terrorismo exerce força moral clara e juridicamente eficaz, será este o substantivo a ser tomado como definidor do caos a que chegamos no Rio. Aqui, os bandidos da facção 1 (traficantes), que ateiam fogo a ônibus indefesos e destroem prédios públicos, faceiam-se com os da facção 2 (milícias), que infectadas por policiais chantageiam as populações semimiserávis de quase cem favelas.
O escritor Lima Barreto, há quase cem anos, emitiu sábio conceito ao antever que bandido que mata jamais poderia ser afagado pelo Estado, e nem poderia sequer merecer favores literários por parte de jornalista ou escritor que se prezasse. Sérgio Cabral, felizmente, chega ao governo mandando a semântica às favas e pedindo tropas federais. Duvido que ele não pulverize – de uma vez por todas – o trágico compadrio entre bandidos e policiais. Como disse há pouco José Sarney de desafeto político apeado do poder: “Vade retro, satanás”. No nosso caso, exorcizemos a violência e a união polícia + bandidagem.
Ricardo Cravo Albin
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