O exercício de escrever com a obrigatoriedade de prazo marcado sempre provocou certo frisson, até desconforto, à cronistas menores como eu. Especialmente quando os temas a serem destilados – e não se sabe bem por quê – devem cumprir o destino tirano da mutabilidade. Ou seja, se hoje você sai com camisa esporte, é recomendável que a vestimenta seguinte seja um terno, e na outra vez uma bermuda, e assim por diante. O guarda-roupa de idéias deve ser usado em sua variedade.
A mim, por exemplo, apetece vestimenta da mesma cor, vazada em modelo imutável. Apetece, sim, mas não posso, nem devo. Nenhum leitor merece tamanha sensaboria. A não ser quando o samba de uma nota só justificar-se em plenitude de modelo – tal como Tom Jobim insistiu em vestir seu samba com uma mesma nota, mas tão original que virou coleção de verão, adentrando os anos posteriores com a permanência do tecido e do feitio. Quase etéreos, de caimento ideal para a leveza carioca. Um pano feito com a brisa do mar, o sol de Ipanema, e tingido pela graça da bossa e da malemolência da cidade inteira.
Pois bem, há pouco falei neste espaço em celebração aos 50 anos de meu querido Museu da Imagem e do Som na Sala Cecília Meirelles. Mas não pôde ser publicado tudo o que eu queria. Especialmente sobre quem, de fato, põe de pé obras atrevidas e difíceis como o prédio do novo MIS na Avenida Atlântica. Atrás de um grande homem está uma grande mulher, diz a voz popular. Assim como atrás do MIS estão convergências de esforços que envolvem dois governadores (Cabral e Pezão), a Fundação Roberto Marinho, a direção do próprio MIS (uma Rosa perfumosa), e a Secretaria de Cultura do Estado. Ali está justamente o motor que propulsiona a obra gigantesca. E ali uma executiva cultural (rara, raríssima espécie em nosso meio) faz a gestação (um degrau afetivo acima da gestão puramente econômica) do Museu. A minha amiga, Eva Doris Rosenthal, de aparência deliciosamente frágil, acompanha o fazimento do desafio por todos esses anos com a força de leoa. Pois bem, na noite solene dos 50 anos na Sala Cecília Meirelles, aplaudi a subida dela ao palco com a gratidão que só se deve aos que irradiam raios de sol. Mesmo em tempo nublado. Mesmo com raios e trovões.