A Copa acabou mas deixou um mar de reflexões. Menos sobre o futebol, que se houve curricular (à exceção do Brasil, por certo), e mais sobre comportamento, estrutura da FIFA ou desperdício dos estádios que ficarão inativos, com obras por acabar, e desleixos de gestão. Mas não cabe aqui arrostar números, nem muito menos estatísticas, que nunca foram predileções minhas.
Cabe, sim, fazer algumas observações em veredas de certas esquinas. Como, por exemplo, sobre a torcida mais barulhenta e de maior número que tivemos nas cidades sedes, a argentina.
Privilegio a torcida dos “hermanos” porque as outras foram tão curriculares quanto o futebol exibido. Ou seja, ambas dentro do esperado, sem maiores alturas ou surpresas desconcertantes (a não ser, é claro, o inesquecível pesadelo do 7 x 1).
Os argentinos invadiram o Brasil com mais de cem mil torcedores. Aqui no Rio, eu os vi às dúzias lotando as praias, os bares, as Fan Fests. Ouvi dizer, por motoristas de táxi e donos de bares ou restaurantes, que o grosso dos torcedores era de gente pobre, que gastava apenas o essencial. O comércio teve prejuízo, não só pelo baixo poder aquisitivo dos turistas, mas também pelos feriados (excessivos, sem dúvida) que fizeram o Rio parar por dias seguidos durante um mês.
Chamo a atenção para a rivalidade histórica entre brasileiros e argentinos. Uma tolice, que felizmente se manifestou em tom menos dramático do que se esperava. O povo da Argentina, digamos, é muito especial e nunca nos viu com olhos fraternos. A recíproca, não há como negar, sempre foi verdadeira. Mas de um fato nos orgulhamos: a hospitalidade e a gentileza com que os visitantes foram acolhidos pelos cariocas, sobretudo nestes tempos nevoentos de individualismo e desconfianças.
Desconfiança mesmo ficou pespagada à FIFA, um super polvo cuja goela gigante tudo engoliu, inclusive despertando suspeitas seríssimas de malfeitos, em vários níveis. Uma pena…
Ricardo Cravo Albin
Presidente do
Instituto Cultural Cravo Albin