O verificar com lupas as origens das coisas e de fatos sempre me atrai. Desde sempre me deparei com eventos ou objetos que pareciam carimbados, definidos, imutáveis. Claro que os há permanentes e definitivos. Mas o “pré-conceito” muitas vezes faz e congela um entendimento qualquer, condenando-o a uma inamovibilidade indevida. Isso, aliás, é muito comum no ardor da mocidade e na algaravia dos radicalismos. Jovens tendem ao maniqueísmo, e velhos recalcitrantes também. Ou seja, ou é esquerda ou é direita, ou vai ao céu ou ao inferno. O “in medio veritas” seria coisa de gente menos acreditada, por vezes desonesta.
Debruçando-me sobre mim mesmo, vejo o quanto errei e o quanto de conceitos tortos alimentei no ardor (e na boa fé) dos verdes anos.
Ainda recentemente, ao fazer neste mesmo espaço uma apreciação sobre a Academia Brasileira de Letras, referia-me ao tradicional chá das cinco. Que há anos passados era objeto caricatural de zombaria, ao ser tido e havido como reunião de velhinhos para discutir amenidades literárias, quase sempre mofadas. E hoje? Qual a conseqüência do conceito? Jaz por terra, face ao vigor da Academia e ao seu eficacíssimo censo de fazimentos culturais. A Academia Brasileira de Letras é hoje um canhão a disparar tiros certeiros, tanto para recuperar memórias quanto para perfilar um cem números de eventos criativos.
Nesta última sexta-feira, fiz conferencia na Escola Superior de Guerra. E, ante sua seriedade, competência e prioridade para refletir (com objetividade) sobre o Brasil profundo, comprovei mais uma injustiça hoje sem o menor sentido, nestes dias duvidosos: a leviandade com que algumas cabecinhas ocas ainda consideram a Escola Superior de Guerra como um núcleo de patriotada inútil, um celeiro de reacionarismo e de militarização do país. Nada mais falso.
Saí da Escola Superior de Guerra certo de que preconceitos ainda povoam mentes enevoadas. E que alimentam inverdades. Mesmo de gente até bem-intencionada.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin