A Academia Brasileira de Letras não é apenas uma casa de cultura, que destila a aventura do saber. É também uma instituição que celebra o convívio.
Isso significa – nos ásperos dias de hoje – a configuração da excepcionalidade.
Agora mesmo, a Casa de Machado de Assis acaba de desvendar uma bruma cinzenta com refinamento e sabedoria.
Em sessão plenária, a Academia resolveu dar mais uma lição de que o bom convívio entre seus pares será sempre prioritário. De mais a mais, uma casa que abriga 40 imortais, hoje procedentes de variadas áreas da cultura, deve mesmo manter esse estado desejável de relacionamento fraterno e afetuoso.
A quase polêmica que me faz refletir sobre as considerações acima se refere ao prêmio José Ermírio de Moraes, que faz destinar a quantia de R$100 mil para o livro do ano.
Pois bem: a comissão do prêmio – presidida pelo poeta Carlos Nejar e relatada pelo jornalista Murilo Melo Filho – não obteve unanimidade entre os seus cinco integrantes, já que ambos apontaram o Dicionário Houaiss da Música Popular Brasileira, enquanto três outros votantes, Celso Lafer, José Mindlin e João de Scatimburgo se inclinaram pelo livro das fotografias de obras de Frans Post.
O assunto acabou por ser decidido pelo plenário da Academia onde o voto da maioria da comissão seria rejeitado.
O que fez a mesa diretora da casa, presidida com a habitual acuidade por Marcos Vinícios Vilaça?
Não submeteu o segundo o livro (o dicionário) ao plenário, conseguindo desse modo – com elegância e habilidade – que o essencial fosse atingido: a empreitada de manter-se sempre o mais fraterno convívio entre os confrades. Prova reluzente do porquê o cenáculo número um do país será sempre bafejado pela permanência e pelo reconhecimento público.
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e Escritor