Morar na Urca é, hoje em dia, um privilégio numa cidade como a nossa. Ora, sendo a Urca um lugar de não-passagem, acabou por transformar-se numa exceção. Na Urca, felizmente, manteve-se o número de moradores, estabelecendo-se o teto de quatro andares. São dois fatores que fazem da Urca um paraíso isolado, solitário, que resta na cidade inteira.
Quando se fala no fomento de eventos culturais na Urca deve-se levar em consideração exatamente esse aspecto: o de que a tranqüilidade do bairro possa ser preservada. Mas isso não significa, ao final das contas, uma estagnação. Afinal, a Urca é berço do Rio de Janeiro; seus prédios contam histórias, suas ruas relembram épocas, cada esquina tem um marco do passado recente ou distante. A imponência da fortaleza de São João, de frente para a entrada da Baía da Guanabara e dos edifícios da Avenida Pasteur com suas escadarias e janelas, os cem anos do Caminho Aéreo, a elegância do Iate Clube. Os eventos e iniciativas que já começam a surgir têm obrigação de se manterem em níveis de discrição. É exatamente por isso que a diligente e muito acreditada Associação de Moradores da Urca está contra o funcionamento do Instituto Europeu de Design no nosso antigo Cassino. Vale recordar: foi instalada ali a escola européia de design apenas em parte do terreno, porque outros 50% estão no mais desolador abandono. Pior de tudo: não houve qualquer previsão de impacto do tráfego e, sobretudo, de estacionamento para a área já recuperada. Imaginem o horror: 300 a 400 alunos, cada um com seu carrão (matrículas caríssimas), sem o possível estacionamento. Pode ser – ao que tudo indica – um puro caos! Pobre comunidade do mais tradicional e conservador bairro do Rio…
Ricardo Cravo Albin
Jornalista e escritor
www.dicionariompb.com.br