“A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi, estrela absoluta do Salão LER, é o personagem da semana no Brasil.”
R.C. Albin
Sempre disse e reitero esse pensamento em favor da confirmação do Rio como capital cultural do Brasil: quanto mais salões, exposições, simpósios, festivais e “tutti quanti” se tramarem para a cidade de São Sebastião, mais ela se porá de pé e mais se multiplicará aos olhos do mundo.
Neste domingo, ao visitar como conferencista convidado da Academia Carioca de Letras o Salão do Livro – LER nos armazéns do Cais do Porto confirmei amplamente o que sempre penso. E divulgo. Sim, este Salão Carioca do Livro se consolida como evento obrigatório no calendário de ativos culturais que cabe à cidade estimular. Mais que isso, multiplicar, para que a cada semana haja um foco diversificado de interesse, para todos nós, os moradores, e para os turistas que vêm ao Rio, como fonte de magia e encantamento naturais.
Difícil não será agregar variedades criativas como salões de culinária típica, de filmes, de monólogos teatrais, de escultores populares, de artistas do papel (desenhistas do papel, gravadores, retratistas), de mostra de jovens iniciantes que desabrocham como atores… E por aí, com criatividade e um mínimo de reconhecimento dos mistérios e das tendências do povo carioca, se podem garimpar não dois ou três eventos, mas dezenas.
Tive a sorte de acompanhar no seu início o primeiro Salão Carioca do Livro, quando ainda estava sendo sonhado por um grupo de amantes do Rio, jovens empresários de cultura (eis aí a atividade de que a cidade mais carece).
De de 9 a 15 de maio mais uma vez a cidade regurgitou no Pier Mauá, belamente debruçado sobre o espelho d’água da Baía da Guanabara. Mal acreditei na pequena multidão de crianças que vi consultando freneticamente não apenas super-heróis, mas livros, livros mesmo, de Machado, Lobato, Clarice, até a best-sellers atuais, cujos fragmentos a criançada lia para pequenos grupos de colegas, incendiando de imediato um interesse rejuvenescedor pelas ideias e teses de alto nível do porte de Zuenir, Ruy, Drummond, Sabino. Ao me agregar a muitos grupinhos de leituras ouvi um garoto de 11 anos a chamar a atenção, com os olhos arregalados, para as reclamações de Lima Barreto sobre a destruição do casario colonial imposta a bairros como São Cristóvão ou Rio Comprido, quando não Botafogo e até Flamengo.
Eu, velho implicante com tais barbaridades, interrompi a leitura para aplaudir. Ao silêncio inicial de 10 segundos, os companheiros do leitor do Lima Barreto se somaram ao meu gesto então constrangedoramente solitário.
De imediato, pedi a todos que escolhessem trechos preferidos dos maiores escritores do Rio para que eu pudesse apresentar em rádio a literatura que pode comover os jovens. Será uma emissão pela Rádio Roquette Pinto, nas vozes dos próprios autores dos livros referenciais da literatura carioca.
Quando me refiro aí no título que Paraty é aqui, quero sublinhar que as estrelas do olimpo literário se representaram nesta edição do LER por um personagem poderosamente atraente, a escritora nigeriana e também superstar Chimamanda que veio para o Salão e obteve triunfo inesperado em palestra solo no Maracanãzinho , encantando um público jovem de três mil admiradores. Ela, uma mulher negra de grande encanto e carisma, é considerada uma ativista nos embates do feminismo, da negritude e da luta contra o feminicídio. O ícone cultural, que carrega tal representatividade, certamente avalizará a partir da próxima edição Ler a participação de muitos super stars da literatura e de referências de teses.
Tal como na FLIP de Paraty, confirmo isso em minha cabeça, o Salão foi eleito há dias Patrimônio Cultural do Rio. E não à toa, realizou 610 atividades, envolvendo mil autores e escritores. O Rio se recupera exatamente com ações criativas. E inclusivas. Como a LER.
Ricardo Cravo Albin