O Rio musical não deve perder suas tradições. Muito menos deixar que a cidade se entorpeça, até porque as fontes de sua música popular sedimentam a mais bela aventura da alma brasileira, a MPB, uma paixão nacional.
Poucos de vocês talvez saibam, mas nos sábados à tarde (isso há quarenta, cinqüenta anos) era comum saraus de choro pela cidade, especialmente nos subúrbios cariocas. Eu mesmo, nos anos 1960, ia com freqüência às sessões de choro promovidas por Jacob do Bandolim em Jacarepaguá ou por Pixinguinha em Olaria. A tradição está de volta agora no recém-inaugurado salão de música do Instituto Cultural Cravo Albin na Urca. Sem qualquer patrocínio e exclusivamente por amor. Aos últimos sábados de cada mês, Joel Nascimento (o gênio do bandolim), recebe grandes instrumentistas convidados (como Henrique Cazes e Josimar Carneiro) apenas para exercitar e fazer fruir o mais refinado gênero musical do país. Todos eles viram chorões e fazem delirar uma seleta platéia de menos de cem pessoas, que, com vista panorâmica para a Baía da Guanabara, apenas ouvem as tramas sofisticadas do choro carioca.
Ao final da chamada “Sabatina da Pedra – Chorando com Joel”, o mestre do bandolim concede a uma personalidade da música o Diploma Ernesto Nazareth.
Neste exato momento, todo um resgate de memória, de afetos, de carioquice e, sobretudo, de vida está sendo realizado. Até porque as lágrimas nos olhos da platéia testemunham a emoção que esse tipo de sarau pode provocar.
Ricardo Cravo Albin
Pres. do Conselho de Cultura da ACRJ
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