O desfile das campeãs põe um ponto final no carnaval carioca. E faz realçar uma necessidade estratégica, a de que as escolas de samba carecem de um afago oficial, formal, explícito. Esse acarinhamento virá de uma maneira muito simples e objetiva, não necessariamente acolitado por verbas polpudas nem por derramamentos verborrágicos. Será tão somente uma declaração. Uma confirmação, por parte do IPHAN, de que a forma das escolas de samba – cuja matriz foi criada pela invenção carioca – é hoje um patrimônio imaterial do Brasil. Patrimônio inalienável da criação do gênio miscigenado que fornece as bases mais sólidas, solidárias e convergentes do povo brasileiro.
Penso que muitos intelectuais ainda não se deram conta da abissal e dramática importância sócio-cultural-antropológica do que representa o desfile das escolas de samba para este país. E por tudo: como forma de congraçamento e convergência de artes, como prova da pujança de organização do povo, como matriz de beleza, alegria e criatividade solares para um mundo lunar, acabrunhado e quase triste. Especialmente o chamado primeiro mundo, que patina em suas riquezas egocêntricas. Por isso, o IPHAN-Rio foi solicitado (há exato um ano) pelo Instituto Cultural Cravo Albin a declarar a forma “Escola de Samba” como bem imaterial do país. A ser logo depois, esperamos todos, tombado pela UNESCO como bem cultural do mundo. Agora que o Presidente Lula acaba de conhecer melhor nosso maior tesouro popular, será ele mesmo, com certeza, um estimulador de tese amparada pela verdade. E por tantos títulos de apreços.
Ricardo Cravo Albin
Pres. do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
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Título original: Tombamento das Escolas