Não, não cabe aqui dissertar sobre a polêmica levantada na Urca, o mais amorável bairro carioca, grata referência de manutenção da qualidade do Rio dos saudosíssimos anos 40 – 50. A polêmica – vocês sabem – remete a dois vetores atualíssimos: a reconstrução do velho Cassino da Urca (plantado sobre as areias praia) e ainda – a mais recente – a chegada do Belmonte, botequim que (numa sôfrega rede espalhada pela cidade) atrai centenas de ruidosos freqüentadores.
E não me cabe alongar sobre esses valores menores, porque um mais alto se alevanta. Trata-se do lançamento, nesta quarta-feira próxima, do livro “O inquilino da Urca”, do acadêmico Carlos Nejar. O inquilino do livro é ele próprio, o poeta, o ensaísta, o grande escritor. Pois o memorável no meu querido Nejar é que, mal se instalou em casa por pedras, numa curva a beira-mar onde o vento faz moradia e de onde se descortina estonteante vista para a Baía e para o Corcovado, ele – Zaz!, mais que depressa – põe mais um ovo de ouro.
O livro de poemas sobre a pedra dos morros da Urca e do Pão de Açúcar, sobre o mar do Rio, sobre o vento que acaricia sua casa, é também sobre a amizade, a benquerença, o convívio, o gozo da vizinhança. Escrito com a elegância habitual da forma e propulsionado pela sensibilidade de um puro de alma, os poemas de Nejar comovem pela beleza e pela verdade.
Carlos Nejar não é apenas o inquilino do bairro. Ele é – a partir de agora – seu maior poeta, seu anunciador. E seu profeta, nos cem anos que agora o Rio celebra do bairro modelo de uma cidade tão devastada.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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