A velha tradição carioca de promover saraus familiares – “coisa da antiga” como diria o samba de Ney Lopes e Wilson Moreira – está voltando à cidade. Não mais com senhorinhas a arrastar, arfantes e pressurosas, compridas saias de tafetá pelos assoalhos do casario antigo, nem muito menos com pianistas envergando fraque e bebericando licores de tamarindo dos conventos. O Sarau da Pedra – o nome vem da magnífica rocha do Morro da Urca/Pão de Açúcar – fez voltar ano passado esses encontros, graças à parceria de uma instituição cultural que preserva o som do Rio (o ICCA) com uma grande empresa de gás-petróleo (a Repsol).
Esses saraus são a versão século XXI da tradição do século IX. As senhorinhas de hoje – já não tão arfantes – cuidam de tudo com esmero e desembaraço, comandadas por extraordinário carioca (tricolor e mangueirense) que atende pelo nome argentino (!) de Alejandro Roig. Os tímidos licores são substituídos por dardejantes caipirinhas. E os pianeiros de antanho são o melhor da MPB contemporânea.
Pois bem, depois de centrar seu tema principal ano passado em dez grandes compositores a partir da bossa-nova (de João Bosco, Francis Hime, Guinga a Carlos Lyra e Edu Lobo), o Sarau da Pedra volta à Urca neste segundo semestre de 2008 com nova e bela proposta.
Por conta da gravadora Biscoito Fino, os Saraus 2008 jogam um clarão de luz em cima de artistas que – embora aclamados pela crítica – não têm mídia, repercussão, páginas de jornais, nem são convidados pelas tevês.
Generoso e solidário, o Sarau da Pedra volta com força inovadora e propulsora.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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