“Sic transit gloria mundi” é a frase latina ostentada nos cemitérios. Significa uma verdade quase aterradora para certas vaidades inamovíveis: “assim (com a morte) acaba a glória do mundo”. Mas o tão certo (e temido) ato de morrer pode alavancar para o futuro glórias provocadas por belas obras ou grandes gestos. É o caso do escritor Machado de Assis, considerado por muitos o maior escritor brasileiro e o mais qualificado fruto da miscigenação brasileira. Costumo me referir a ela (à mistura racial) como a mais estimulante peça civilizatória do país. Pois bem, Machado – a par de obra inquestionável – foi também o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Não, Joaquim Maria Machado de Assis não foi seu único fundador: esse mérito há que ser atribuído a dois gigantes literários de sua época e que foram Lúcio de Mendonça e Joaquim Nabuco. Ambos convidaram o já celebrado escritor para se somar ao então embrião da Academia, imaginada nos moldes da congênere francesa. Afinal, nos anos finais dos novecentos (1898), a França era modelo irretocável do belo, do bom, do desejado.
Machado, cujo centenário de morte está sendo evocado neste 2008, é igualmente disputado na cadeira que ele criou na ABL, a de nº 23.
Pasmem, mas a procura pela imortalidade, ou para ser preciso, pela cadeira do grande escritor da língua portuguesa neste lado do Atlântico, somava 22 candidatos. E as inscrições se encerram hoje…
Fato inédito, nunca visto antes na Casa. Provocado, quero crer, pela aura de mito, de sortilégio, de qualidade da obra do maior mulato do Brasil.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista
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Título original: Machado e a Imortalidade