A Academia Brasileira de Letras sempre cumpriu, com desvelo, o rito, a solenização dos atos, a sacralização às tradições.
Lá na Casa de Machado de Assis, a ordem natural, cujo beneficiário direto será sempre o bom convívio, prevê um rito de sucessão para a cadeira de presidente. O assentimento entre os acadêmicos é que o secretário-geral de uma administração deva ser o próximo presidente.
Assim foi com os dois anos (a reeleição é permitida) de Marcos Vinícios Vilaça, cujo secretário-geral, Cícero Sandroni, acaba de assumir a Presidência.
Esse biênio ajudou a Academia a marcar presença ainda mais elástica e diversificada em todos os segmentos culturais da sociedade. Na verdade, desde as administrações de Arnaldo Niskier e Nélida Piñon, com prosseguimento febril em Tarcísio Padilha, Carlos Nejar, Alberto da Costa e Silva e Ivan Junqueira, a Academia é uma usina de eventos. Que vão desde ciclos criativos de conferências até a espetáculos de levantamento de memória.
Aliás, foi exatamente com os Cantores do Chuveiro – grupo de intelectuais que, cantando, soerguem memórias musicais e esgrimem generosidade – que o jornalista e escritor Cícero Sandroni deu partida a sua ação como Presidente da nova mesa. Que se dá o luxo de contar com dois ex-presidentes, Da Costa e Silva e Ivan Junqueira (este, agora secretário-geral). Ou seja, Sandroni – jornalista de escol e calejado defensor da liberdade de expressão – já antecipa, desse modo, que sua mesa-diretora irá prosseguir na abertura da ABL para suprir os reclamos culturais do país.
Embora mantendo as tradições e os belos rituais acadêmicos.
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista