Quem pensar que estou a me referir àquelas pessoas que tão somente cantam ao tomar banho – aliás, hábito adorável que todos deveríamos alimentar – estará muitíssimo enganado.
O título aí de cima remete a um dos grupos musicais mais surpreendentes que jamais apareceu neste país. Eles nasceram na virada do século, então dirigidos e roteirizados por Augusto Boal. E com uma característica única: são expoentes da nossa vida sócio-cultural que cantam… exclusivamente pelo prazer de cantar. Ou seja, o grupo se exibe como se fosse profissional, porque quer tão somente participar, compartilhar, fazer feliz uma platéia. Convenhamos que nesses tempos ásperos em que se vêem a ladroagem e a desfaçatez campearem, um gesto de pura doação e boa vontade chega a comover.
Eles cantaram ontem, em temporada no Bar do Tom (final do Leblon), e obtiveram sucesso estrondoso. De casas superlotadas e de aplausos febris.
Os Chuveiros – como são chamados os seis cantores pela crítica – já estão habituados a receber esse tipo de triunfo. Nas temporadas anteriores, passaram quase um ano em cartaz no desaparecido Teatro de Arena, acompanhados pelo fiel quinteto do Paulo Malaguti.
Agora, o aguerrido conjunto (de médico (Fernando Rocha), engenheiros (Paulo César Lopes e Octávio Brandão), escritora (Laura Sandroni), psicopedagoga (Maria Helena Alvarenga) e arquiteta (Clara Redig)) canta o protesto. Ou seja, as canções que ficaram ao lado do povo e disseram não à censura.
Parecem meninos do antigo CPC da UNE antiga…
Ricardo Cravo Albin
Escritor e Jornalista