Até ontem, pensava que Nelson Rodrigues, nosso Nelson, o maior dramaturgo do Brasil, fosse o único representante explícito de paixão unipresente por um time de futebol, o Fluminense Futebol Clube.
Entrevistando na Rede Vida de Televisão (canal 26 da Net no Rio, no ar amanhã às 23h30min) o célebre juiz Francisco Horta, comprovei que, depois de Nelson, só o Horta. Movido por uma paixão ilimitada, Horta é pura paixão.
Confesso que me impressionei com meu amigo de tantos anos. Que não fez por menos: trouxe aos estúdios da Rede Vida vários troféus, que ele vê como …relíquias. Inclusive a camisa de Rivelino, autografada pelo craque em 1975, auge da Máquina Tricolor. Que ele próprio armou, acompanhado pela fúria do Nelson e pelo dinheiro do Almeida Braga, odisséia que rendeu belo livro de Nelson Motta.
Memorável Horta: quando Nelson começou a perder a visão, ele passaria a narrar o jogo para o escritor, relatos transformados em crônicas febris no mesmo dia.
Sobre a sua famosa Máquina Tricolor, Horta umedece os olhos, vermelhos de imediato ao apenas citar Rivelino, Carlos Alberto Torres, Paulo César Caju, Pintinho e Doval.
– E a atuação do nosso clube hoje, Horta? Na bucha responde: “ nunca esteve melhor, com o único título que nos faltava, a Copa do Brasil. E mais, eu, que conquistei o bicampeonato carioca, só não fui reeleito porque o regimento interno do clube vetava. Agora, considero um dever reeleger-se ao final deste ano o Roberto Horcades, homem pobre e honesto, que sacrifica sua profissão de médico cardiologista que é, para se dedicar em tempo quase integral ao clube”.
Concordei, emocionado, com a fala – proferida em tom maior – do nosso imbatível ex-presidente. Inclusive quanto à paixão empunhada. Inclusive quanto à reeleição do Horcades.
Ricardo Cravo Albin
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